O Cristianismo Se Organiza (continuação)
Foi o bispo Cornélio de Roma o primeiro a se autoproclamar papa,
em meados do século III. Cornélio supervisionava 155 clérigos, alguns eram
presbíteros e serviam como ministros e sacerdotes das congregações e como
servidores do bispo na administração. Os diáconos também eram clérigos
ordenados, os quais trabalhavam como supervisores das obras de caridade e ainda
realizavam tarefas administrativas. Alguns clérigos eram administradores que
trabalhavam para o bispo cuidando da correspondência, transmitindo mensagens
para outros bispos e mantendo a organização da diocese.
À medida que a igreja se tornou mais clerical, o papel dos
leigos começou a diminuir. No início do século III, era comum que leigos
oficiassem os batismos e dirigissem os cultos. Muitas congregações cristãs
permitiam alguma participação espontânea dos leigos. Os leigos que sofreram por
amor a Cristo durante a perseguição eram no geral considerados capacitados a
declarar perdoados os pecados, após a penitência apropriada. Tudo isso mudou no
processo rumo ao clericalismo.
A liturgia tornava-se cada vez mais formal e o sistema
penitencial mais específico, e a administração de ambos tornou-se exclusiva
dos clérigos. No início do século III, os leigos da igreja em Cartago ainda
podiam esperar ter alguma participação direta no culto, “profetizar” ou cantar suas
próprias composições. Podiam também batizar, e essa parece ter sido uma
tradição também em Roma. Já em meados do século III a situação mudou, pois Cipriano
já não fala de leigos realizando batismos em nenhuma das muitas referências ao
assunto. A celebração dos sacramentos passou a ser prerrogativa exclusiva dos
sacerdotes ordenados.
No nível mais alto do clericalismo estava o bispo: o
“supersacerdote”, principal administrador e juiz de todos os cristãos de sua
sé. Normalmente, um bispo não interferia nos assuntos dos demais. No início do
terceiro século o cristianismo era uma colcha de retalhos de dioceses, sem
nenhuma organização. Embora o bispo de Roma alegasse certa supremacia sobre os
demais, nenhum outro ainda reconhecia a legitimidade dessa reivindicação.
Cipriano argumentava que a unidade da igreja estava na
comunhão dos bispos. Mas o que se deveria fazer se um bispo cometesse um pecado
vil ou heresia, ou traísse a Cristo e a sua igreja durante a perseguição? Então,
surgiu a necessidade dos sínodos para tomadas de decisões importantes em
questões que afetassem mais do que uma sé e que examinassem as credenciais de
bispos.
Foi em Antioquia que um sínodo excomungou pela primeira vez um
bispo, em 268. Pode ter ocorrido na basílica recém-construída em uma importante
cidade romana. Um grupo de bispos reuniu-se ali, a fim de examinar e condenar
os ensinos do bispo Paulo de Samosata. Parece que ensinava uma versão da
doutrina de Cristo que veio a ser chamada “adocionismo”; defendia a divindade
de Jesus a partir de seu batismo no Rio Jordão. Acreditava que a doutrina da
Trindade, ainda em desenvolvimento, inclusive a eterna divindade do Filho,
ameaçava o monoteísmo. Por isso, dizia que Jesus Cristo era um homem adotado
por Deus como seu filho humano especial.
Os sínodos não tinham “poderes” oficiais para fazer valer suas
decisões. Os cristãos não passavam de uma minoria perseguida, apesar de
prosperarem, construírem basílicas e até mesmo planejarem uma grande catedral
perto do palácio imperial. Só tinham a autoridade que lhes era outorgada pelos cristãos.
Ocasionalmente, um bispo ou um sínodo apelava às autoridades romanas para que
ajudassem a impor suas decisões. As autoridades romanas preferiam, na maioria
das vezes, ficar fora das disputas, a menos que a paz cívica estivesse em jogo.
Apesar disso, os sínodos tinham sucesso em persuadir os cristãos.
No fim do século III, a clericalização do cristianismo estava
quase completa. A igreja, para todos os efeitos, era idêntica à comunhão dos
bispos na sucessão apostólica. Embora vários grupos cismáticos, como os
montanistas, gnósticos e outros, ainda existissem, a Grande Igreja emergia de
forma cada vez mais evidente. Tudo o que faltava para consolidar sua unidade e
seu poder hierárquico e livrá-la para sempre de hereges e cismas perturbadores
era um único bispo supremo com autoridade absoluta sobre os demais e um
imperador cristão que apoiaria com o peso da “espada”, o que aconteceu nos
séculos IV e V. Tanto que, em 455, no Concílio de Calcedônia, o imperador e o
papa tornaram-se influências cruciais na decisão da verdadeira doutrina e o
verdadeiro governo da igreja.
Não devemos condenar a iniciativa de organização da igreja
visível de Cristo, mesmo a hierarquia não é condenável. O que não deveria acontecer,
entre tantas coisas, seria o abuso de autoridade para realização de atos que
não convém citar no momento. Outro tema para meditação é que o Novo Testamento não
atribui exclusividade à pessoa alguma ou a grupo de pessoas. Para Deus não há
leigos, todos os que creem em Seu Filho são feitos sacerdotes, ligados ao Sumo Sacerdote,
que é Jesus Cristo. “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa
espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe 2:5).
Que
o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
Mais uma vez agradeço pela oportunidade de aprender.Você é o exemplo do que Deus pode fazer na vida de um homem quando este homem é tranformado por Deus.
ResponderExcluirGilmar Madalozzo
É sempre um prazer poder contar com os ilustres visitantes.
ExcluirUm abraço.