As Regras da Fé
Nos séculos II e III ainda não havia critérios para julgar o
que era teologicamente correto ou não, nem havia nenhuma Bíblia cristã aceita
por unanimidade. O que não quer dizer que os bispos dessa época nunca apelavam
às Escrituras. Entretanto, o que um bispo considerava como Escritura inspirada
não era necessariamente a mesma coisa que outro considerava. Na ausência de um
Cânon formalmente reconhecido como Escritura cristã, os bispos apelavam à
“tradição” amorfa.
Os líderes e teólogos do cristianismo tinham uma ideia de
tradição apostólica e procuraram identificá-la e formalizá-la em um credo que
pudesse servir a todas as igrejas em todos os lugares. O fundamento, para esse
resumo oficial em forma de credo da doutrina apostólica, achava-se em uma
fórmula batismal antiga usada nas igrejas de Roma. Em algum momento do final do
século II ou início do século III, alguém formulou a partir dessas declarações
cristãs romanas o que veio a ser conhecido por “credo dos apóstolos” (antigo
credo romano).
Uma de suas versões diz o seguinte: “Creio em Deus, Pai
onipotente, Criador do céu e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho,
nosso Senhor. Ele foi concebido pelo poder do Espírito Santo e nasceu da virgem
Maria. Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e
sepultado. Desceu aos mortos. Ressuscitou no terceiro dia. Subiu ao céu, e está
sentado ao lado do Pai. Voltará para julgar os vivos e os mortos. Creio no
espírito Santo, na santa Igreja católica, na comunhão dos santos, no perdão dos
pecados, na ressurreição do corpo, e na vida eterna. Amém”.
É desconhecida a linhagem exata desse credo. Embora suas
raízes remontem à igreja de Roma no século II, sua formulação plena e sua
aceitação oficial como o “símbolo” ou “regra da fé” (credo) unificadora só
surgiu muito mais tarde. O teólogo Rufino, tradutor de Orígenes para o latim,
incluiu um texto quase completo desse credo por volta de 404. A íntegra desse
credo e sua aceitação oficial veio sob a autoridade do imperador Carlos Magno
do Sacro Império Romano (ou o Reino Latino dos Francos) cerca do ano 813.
O fato é que alguma forma “do Credo dos apóstolos” ou “do
Símbolo romano antigo” foi amplamente aceita como o resumo autorizado da
tradição apostólica no século III. Seu propósito era fornecer um critério de
afiliação na igreja católica e ortodoxa. Sua linguagem excluiu deliberadamente
os gnósticos e outros hereges. A longo prazo, no entanto, esse credo ficou
demasiadamente pequeno para seu propósito.
No século IV, os bispos acharam necessário formular e
promulgar outro credo que preenchesse com mais pormenores o arcabouço oferecido
pelo Credo dos apóstolos, o Credo de Nicéia, ou “nicenoconstantinopolitano” (325
e 381), o qual deixou claras as interpretações corretas de certas passagens
ambíguas no credo anterior e enfatizou a doutrina trinitária implícita ali.
Juntos, esses credos formam as declarações autorizadas unificantes gêmeas da fé
apostólica para boa parte da cristandade.
Mesmo durante a Reforma protestante do século XVI, a maioria
das ramificações do protestantismo e dos seus líderes (Lutero, Zuínglio,
Calvino) abraçava-os e até mesmo considerava hereges quaisquer reformadores que
não quisessem adotá-los.
É interessante notar que essas “regras da fé” são de data
anterior ao acordo final e oficial a respeito do cânon das Escrituras cristãs,
lembremos ainda que a Igreja Ortodoxa Oriental e a Católica Romana enfatizam a
autoridade da tradição acima da autoridade do cânon, isto é, acreditam que o
cânon das Escrituras é um produto da tradição apostólica que anteriormente dera
origem à eclesiologia episcopal da igreja e das regras da fé.
Não significa que subordinam a verdade das Escrituras à outra
que não seja a verdade de Deus. Pelo contrário, nas suas teologias, a tradição
que provinha dos apóstolos tem prioridade histórica e eclesiástica sobre o
cânon. É a tradição viva incorporada na comunhão dos bispos e expressa nas
regras da fé que acabou dando origem ao “reconhecimento” de certos escritos
como inspirados.
Os protestantes, de modo geral, tratam a questão de modo
diferente. Colocam o texto inspirado acima da tradição oral. Em certo sentido,
tanto a ortodoxia oriental como o catolicismo romano fazem o inverso.
Não há nada mais edificante que crer no Deus Pai, Filho e
Espírito Santo, o nosso Deus TRIUNO: “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da
água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como
pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho
amado, em quem me comprazo” (Mt 3:16-17).
Que
o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
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