HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 28



As Regras da Fé

Nos séculos II e III ainda não havia critérios para julgar o que era teologicamente correto ou não, nem havia nenhuma Bíblia cristã aceita por unanimidade. O que não quer dizer que os bispos dessa época nunca apelavam às Escrituras. Entretanto, o que um bispo considerava como Escritura inspirada não era necessariamente a mesma coisa que outro considerava. Na ausência de um Cânon formalmente reconhecido como Escritura cristã, os bispos apelavam à “tradição” amorfa.

Os líderes e teólogos do cristianismo tinham uma ideia de tradição apostólica e procuraram identificá-la e formalizá-la em um credo que pudesse servir a todas as igrejas em todos os lugares. O fundamento, para esse resumo oficial em forma de credo da doutrina apostólica, achava-se em uma fórmula batismal antiga usada nas igrejas de Roma. Em algum momento do final do século II ou início do século III, alguém formulou a partir dessas declarações cristãs romanas o que veio a ser conhecido por “credo dos apóstolos” (antigo credo romano).

Uma de suas versões diz o seguinte: “Creio em Deus, Pai onipotente, Criador do céu e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. Ele foi concebido pelo poder do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria. Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu aos mortos. Ressuscitou no terceiro dia. Subiu ao céu, e está sentado ao lado do Pai. Voltará para julgar os vivos e os mortos. Creio no espírito Santo, na santa Igreja católica, na comunhão dos santos, no perdão dos pecados, na ressurreição do corpo, e na vida eterna. Amém”.

É desconhecida a linhagem exata desse credo. Embora suas raízes remontem à igreja de Roma no século II, sua formulação plena e sua aceitação oficial como o “símbolo” ou “regra da fé” (credo) unificadora só surgiu muito mais tarde. O teólogo Rufino, tradutor de Orígenes para o latim, incluiu um texto quase completo desse credo por volta de 404. A íntegra desse credo e sua aceitação oficial veio sob a autoridade do imperador Carlos Magno do Sacro Império Romano (ou o Reino Latino dos Francos) cerca do ano 813.

O fato é que alguma forma “do Credo dos apóstolos” ou “do Símbolo romano antigo” foi amplamente aceita como o resumo autorizado da tradição apostólica no século III. Seu propósito era fornecer um critério de afiliação na igreja católica e ortodoxa. Sua linguagem excluiu deliberadamente os gnósticos e outros hereges. A longo prazo, no entanto, esse credo ficou demasiadamente pequeno para seu propósito.

No século IV, os bispos acharam necessário formular e promulgar outro credo que preenchesse com mais pormenores o arcabouço oferecido pelo Credo dos apóstolos, o Credo de Nicéia, ou “nicenoconstantinopolitano” (325 e 381), o qual deixou claras as interpretações corretas de certas passagens ambíguas no credo anterior e enfatizou a doutrina trinitária implícita ali. Juntos, esses credos formam as declarações autorizadas unificantes gêmeas da fé apostólica para boa parte da cristandade.

Mesmo durante a Reforma protestante do século XVI, a maioria das ramificações do protestantismo e dos seus líderes (Lutero, Zuínglio, Calvino) abraçava-os e até mesmo considerava hereges quaisquer reformadores que não quisessem adotá-los.

É interessante notar que essas “regras da fé” são de data anterior ao acordo final e oficial a respeito do cânon das Escrituras cristãs, lembremos ainda que a Igreja Ortodoxa Oriental e a Católica Romana enfatizam a autoridade da tradição acima da autoridade do cânon, isto é, acreditam que o cânon das Escrituras é um produto da tradição apostólica que anteriormente dera origem à eclesiologia episcopal da igreja e das regras da fé.

Não significa que subordinam a verdade das Escrituras à outra que não seja a verdade de Deus. Pelo contrário, nas suas teologias, a tradição que provinha dos apóstolos tem prioridade histórica e eclesiástica sobre o cânon. É a tradição viva incorporada na comunhão dos bispos e expressa nas regras da fé que acabou dando origem ao “reconhecimento” de certos escritos como inspirados.

Os protestantes, de modo geral, tratam a questão de modo diferente. Colocam o texto inspirado acima da tradição oral. Em certo sentido, tanto a ortodoxia oriental como o catolicismo romano fazem o inverso.

Não há nada mais edificante que crer no Deus Pai, Filho e Espírito Santo, o nosso Deus TRIUNO: “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3:16-17).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro


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