HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 26





O Cristianismo Se Organiza

Um episódio importante na história da teologia cristã é a transformação da religião cristã, de uma seita praticamente clandestina em uma instituição altamente organizada, que logo se tornaria a religião oficial do Império Romano. E os acontecimentos mais importantes que foram responsáveis por essa transformação são: (1) a formalização da estrutura organizacional hierárquica centralizada nos bispos; (2) a formulação dos credos que resumem os princípios do que se deve crer para ser cristão; e (3) a identificação de um cânon de Escrituras cristãs.

Os cristãos concordavam que os apóstolos tinham posição e autoridade especiais para ensinar, corrigir e dirimir disputas. A igreja precisava encontrar uma forma de se governar sem os apóstolos. Essa necessidade surgiu especialmente por causa do surgimento de heresias e seitas cismáticas dentro do cristianismo do século II.

Na falta de uma estrutura organizacional, qualquer pessoa podia corromper os ensinos da igreja pela persuasão e carisma. O gnosticismo, em especial, foi uma ameaça às doutrinas do cristianismo e forçou os cristãos do século II a procurar líderes poderosos para abafá-lo.

A perseguição também forçou a igreja a lidar com algumas questões que exigiam liderança forte. Precisavam de alguém que falasse em nome dos cristãos em cada região, alguém que negociasse com o procônsul romano em cada território.

Além disso, alguns bispos caíram em erro, então a igreja foi forçada a criar uma hierarquia forte, credos e confissões de fé e um cânon de Escrituras cristãs. Se o bispo representa e dirige a igreja, e se muita autoridade espiritual está investida nesse cargo, o que se deve fazer com um bispo que comete um pecado vil ou uma heresia e que se torna traidor durante a perseguição?

Na virada do século I para o século II, cada congregação tinha um presbítero ou grupos de presbíteros (anciãos). Logo depois, a maior das igrejas selecionava um só presbítero para servir como bispo (superpresbítero) para orientar e supervisionar os demais presbíteros. Os bispos foram conquistando cada vez mais autoridade e controle à medida que as congregações individuais davam origem a novas igrejas.

No final do século III, Roma possuía quarenta congregações divididas em paróquias, dirigidas por um único bispo. Os bispos adquiriam paulatinamente uma posição espiritual especial mediante a qual somente eles eram capacitados a declarar quem pertencia verdadeiramente à igreja cristã e quem era herege ou quem ficava fora do alcance do perdão. Assim, os bispos ganharam realmente o poder de excomunhão.

Essa clericalização teve grandes consequências, além de estabelecer um fluxograma para administração. No nível mais alto da escalada hierárquica estava o bispo e, uma vez eleito, sua autoridade era praticamente incontestável. Era o “sumo sacerdote”, “descendente dos apóstolos”, investido de “poderes apostólico”. Abaixo desse bispo vinham clérigos de vários tipos, dispostos numa teia, todos governados por um conjunto crescente de leis canônicas. Muitos bispos tinham departamentos inteiros trabalhando sob suas ordens.

A seguir saberemos qual o primeiro bispo a se autoproclamar “Papa”, pai. “E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus” (Mt 23:9).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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