HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 25



A Doutrina da Salvação de Cipriano

Para Cipriano a salvação é um processo que começa na igreja, com a conversão no batismo, e continua na igreja até a morte. Foi um dos primeiros pais da igreja a afirmar a regeneração batismal. Embora atribuísse à graça de Deus toda a energia salvífica, considera a “lavagem da água salvífica” o instrumento de Deus para nos tornar “renascidos”, a fim de que recebamos uma nova vida e nos livremos da vida anterior. A “água do renascimento” nos anima para uma nova vida com espírito de santidade.

Numa epístola sobre o batismo infantil, Cipriano afirmou que todos nascem culpados do pecado de Adão e que a culpa só é limpa com a água do batismo. Noutra epístola a respeito de batismos conduzidos por hereges e cismáticos, declarou que o sacerdote que batiza transmite ao batizando a “remissão dos pecados” e o revestimento do Espírito Santo, mas com hereges e cismáticos o efeito do batismo fica nulo.

As outras reflexões de Cipriano a respeito da salvação deixam claro que ele a considerava um processo vitalício que apenas começa na ocasião do batismo. Mediante o batismo, os pecados são perdoados e o Espírito Santo é outorgado. A partir daí, o crente regenerado deve permanecer firme no caminho da fidelidade à única igreja verdadeira e às suas doutrinas, numa vida de arrependimento que se torna visível com os atos de penitência, de suas esmolas aos pobres e de jejum. Para o caso de um crente cometer um pecado grave, Cipriano preceituava penitências severas antes da restauração à plena comunhão da igreja e dos sacramentos.

Diferentemente dos que seriam demasiadamente brandos, propunha períodos de jejum e oração e a distribuição dos bens aos pobres para receber o perdão e a restauração. E de modo diferente dos que seriam demasiadamente rigorosos, Cipriano preceituava a misericórdia e a renovação da comunhão, mas somente depois que o pecador provasse arrependimento e transformação interior e mudasse de vida.

Na teologia de Cipriano quanto à salvação, vemos o início de um “sistema penitencial” plenamente formado. Séculos mais tarde, manuais inteiros de penitência que detalhavam atos específicos de penitência para todo tipo de pecado passariam a ser padronizado dentro das igrejas ocidentais (católicas romanas).

Cipriano afirma que se o pecador alcança a visão celestial e a imortalidade é unicamente pela misericórdia e pela graça de Deus. Em nenhum momento, ele sugere que uma pessoa pode merecer a salvação como recompensa pelas boas obras; apenas enfatiza que o pecador realmente arrependido que está sendo salvo pela graça de Deus, necessariamente demonstrará o verdadeiro arrependimento por meio de seus atos. A recusa de praticá-los levaria à apostasia – a perda da graça. A cooperação com a graça de Deus no processo da salvação é, para Cipriano, simplesmente o “cristianismo prático”.

Embora atribuísse à misericórdia e à graça de Deus toda a eficácia da salvação, vincula totalmente a sua preservação à fidelidade ao caminho da perfeição: “Conquistar alguma coisa não é nada; o difícil é manter o que se conquistou; assim como a própria fé e o nascimento salvífico vivificam, não por serem recebidos, mas por serem preservados. Na verdade, não é o recebimento, mas o aperfeiçoamento, que preserva o homem para Deus.

É natural que todos aqueles que procuram refletir na Palavra do Senhor cometam alguns equívocos, isso porque não possuímos todas as informações, e aquele que examina algo o faz segundo seus conhecimentos atuais. Assim como acontece conosco hoje, é bem possível que Cipriano tenha tido tempo de reaver alguns de seus conceitos, embora não os tenha publicado. Ainda há a remota possibilidade de que por questão de conveniência não tenha publicado todas as suas convicções. Deixando seus erros de lado, reflitamos no que ele falou corretamente a respeito da doutrina da salvação. Cipriano afirma que se o pecador alcança a visão celestial e a imortalidade é unicamente pela misericórdia e pela graça de Deus, quanto a isso ninguém deve duvidar, pois nenhum morto pode dar vida a si mesmo. É certo também que aquele que verdadeiramente alcança a salvação demonstrará o verdadeiro arrependimento por meio de seus atos, é o que conhecemos conforme sua citação de “cristianismo prático”.

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2:42-47).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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