A Doutrina da Salvação de Cipriano
Para Cipriano a salvação é um processo que começa na igreja,
com a conversão no batismo, e continua na igreja até a morte. Foi um dos
primeiros pais da igreja a afirmar a regeneração batismal. Embora atribuísse à
graça de Deus toda a energia salvífica, considera a “lavagem da água salvífica”
o instrumento de Deus para nos tornar “renascidos”, a fim de que recebamos uma
nova vida e nos livremos da vida anterior. A “água do renascimento” nos anima para
uma nova vida com espírito de santidade.
Numa epístola sobre o batismo infantil, Cipriano afirmou que
todos nascem culpados do pecado de Adão e que a culpa só é limpa com a água do
batismo. Noutra epístola a respeito de batismos conduzidos por hereges e
cismáticos, declarou que o sacerdote que batiza transmite ao batizando a
“remissão dos pecados” e o revestimento do Espírito Santo, mas com hereges e
cismáticos o efeito do batismo fica nulo.
As outras reflexões de Cipriano a respeito da salvação deixam
claro que ele a considerava um processo vitalício que apenas começa na ocasião
do batismo. Mediante o batismo, os pecados são perdoados e o Espírito Santo é
outorgado. A partir daí, o crente regenerado deve permanecer firme no caminho
da fidelidade à única igreja verdadeira e às suas doutrinas, numa vida de
arrependimento que se torna visível com os atos de penitência, de suas esmolas
aos pobres e de jejum. Para o caso de um crente cometer um pecado grave,
Cipriano preceituava penitências severas antes da restauração à plena comunhão
da igreja e dos sacramentos.
Diferentemente dos que seriam demasiadamente brandos,
propunha períodos de jejum e oração e a distribuição dos bens aos pobres para
receber o perdão e a restauração. E de modo diferente dos que seriam
demasiadamente rigorosos, Cipriano preceituava a misericórdia e a renovação da
comunhão, mas somente depois que o pecador provasse arrependimento e transformação
interior e mudasse de vida.
Na teologia de Cipriano quanto à salvação, vemos o início de
um “sistema penitencial” plenamente formado. Séculos mais tarde, manuais
inteiros de penitência que detalhavam atos específicos de penitência para todo
tipo de pecado passariam a ser padronizado dentro das igrejas ocidentais
(católicas romanas).
Cipriano afirma que se o pecador alcança a visão celestial e
a imortalidade é unicamente pela misericórdia e pela graça de Deus. Em nenhum
momento, ele sugere que uma pessoa pode merecer a salvação como recompensa
pelas boas obras; apenas enfatiza que o pecador realmente arrependido que está
sendo salvo pela graça de Deus, necessariamente demonstrará o verdadeiro
arrependimento por meio de seus atos. A recusa de praticá-los levaria à
apostasia – a perda da graça. A cooperação com a graça de Deus no processo da
salvação é, para Cipriano, simplesmente o “cristianismo prático”.
Embora atribuísse à misericórdia e à graça de Deus toda a
eficácia da salvação, vincula totalmente a sua preservação à fidelidade ao
caminho da perfeição: “Conquistar alguma coisa não é nada; o difícil é manter o
que se conquistou; assim como a própria fé e o nascimento salvífico vivificam,
não por serem recebidos, mas por serem preservados. Na verdade, não é o
recebimento, mas o aperfeiçoamento, que preserva o homem para Deus.
É natural que todos aqueles que procuram refletir na Palavra
do Senhor cometam alguns equívocos, isso porque não possuímos todas as
informações, e aquele que examina algo o faz segundo seus conhecimentos atuais.
Assim como acontece conosco hoje, é bem possível que Cipriano tenha tido tempo
de reaver alguns de seus conceitos, embora não os tenha publicado. Ainda há a
remota possibilidade de que por questão de conveniência não tenha publicado
todas as suas convicções. Deixando seus erros de lado, reflitamos no que ele
falou corretamente a respeito da doutrina da salvação. Cipriano afirma que se o
pecador alcança a visão celestial e a imortalidade é unicamente pela
misericórdia e pela graça de Deus, quanto a isso ninguém deve duvidar, pois
nenhum morto pode dar vida a si mesmo. É certo também que aquele que
verdadeiramente alcança a salvação demonstrará o verdadeiro arrependimento por
meio de seus atos, é o que conhecemos conforme sua citação de “cristianismo
prático”.
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e
no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas
maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam estavam
juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam
com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os
dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza
de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias
acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2:42-47).
Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário