Cipriano de Cartago Promove a Unidade
Cipriano nasceu em Cartago por volta do ano 200. É possível
que tenha passado boa parte de seu tempo administrando as vastas propriedades
da família. Pouco depois de sua conversão, começou a distribuir suas riquezas
aos pobres, o que o tornou querido das massas oprimidas de cristãos e
perseguidos em Cartago e arredores.
Viveu, trabalhou e escreveu num momento crucial da vida do
cristianismo. Sua contribuição encontra-se não em uma ideia ou sistema da
filosofia e da revelação divina completamente nova, mas em suas ideias a
respeito da liderança e em sua própria liderança na igreja em um período de
grande perseguição, rixas, cismas e heresia dentro do cristianismo. Exerceu e ensinou
um estilo de liderança cristã que se tornou normativo na igreja católica e
ortodoxa por mil anos e que continua sendo a visão básica da estrutura e
liderança eclesiásticas no ramo católico romano do cristianismo, embora a
maioria dos protestantes a rejeite.
Cipriano padronizou o papel do bispo dentro da Grande Igreja
e tornou-o absolutamente essencial para a eclesiologia do cristianismo católico
e ortodoxo. A vida e o pensamento de Cipriano é, de muitas maneiras, a resposta
à pergunta frequentemente feita: “Como a igreja cristã tornou-se católica?”. Ou
seja, como as ideias de Cipriano a respeito do cargo de bispo contribuíram
grandemente para fazer do cristianismo, tanto o oriental como o ocidental, uma
hierarquia espiritual altamente estruturada.
Obviamente, Cipriano não inventou essa eclesiologia
episcopal. Ela foi desenvolvida muito tempo antes dele se interessar pelo
assunto. Aliás, Cipriano tem sido frequentemente chamado “o Inácio ocidental”
por causa de sua ênfase em relação aos bispos e à obediência dos cristãos a
estes.
Cipriano e todos quanto com ele concordassem costumavam dizer
“Quem não tem a igreja como mãe não pode ter Deus como Pai” e “fora da igreja
não existe salvação”.
Os primeiros bispos foram homens semelhantes a Timóteo,
nomeados pelos apóstolos ou pelas congregações cristãs para fornecerem uma
liderança espiritual. Quando irrompiam conflitos nas comunidades cristãs das cidades
do Império Romano, os bispos tidos em alta estima, como Clemente de Roma e
Inácio de Antioquia, escreviam cartas conclamando os cristãos leigos a
respeitar e obedecer aos bispos. No decorrer do século II, no entanto, o cargo
de bispo paulatinamente tornou-se um cargo administrativo no qual o ministro
cristão supervisionava as necessidades espirituais e administrativas de
congregações em determinadas áreas.
A união da Igreja com o Império parecia natural para muitos
líderes cristãos, muito antes de se pensar em um imperador cristão.
Constantino, o primeiro imperador a se considerar cristão, era algo inimaginável
no século III, pois em geral os imperadores eram hostis ao cristianismo.
Ocasionalmente, sacerdotes ordenados por bispos que se
desviavam eram rejeitados pelas congregações por essa simples razão. A
perseguição e a consequente confusão ameaçavam produzir o caos total no
cristianismo, foi quando Cipriano entrou em cena para acabar com a confusão e
fornecer um conjunto de diretrizes que unisse todas as congregações, ministros
e cada crente cristão em volta dos bispos. O resultado foi a formação da
eclesiologia católica. Essa mesma eclesiologia é aceita pela Igreja Ortodoxa
Oriental.
O historiador eclesiástico Hans von Campenhausen resume a
relevância de Cipriano nesse respeito: “Com Cipriano, começou a linhagem de
bispos 'curiais' que tentavam desempenhar seu cargo eclesiástico no estilo
magisterial dos cônsules e procônsules [do império], com quem não se importava
em ser comparado”.
Além das numerosas epístolas, duas de suas maiores obras
destacam-se por sua importância especial: “Dos Desviados” e “Da Unidade da
Igreja”.
Segundo seu biógrafo, Cipriano teve uma visão da própria
morte, pouco antes de ser detido pelas autoridades romanas. A fuga de Cipriano
foi planejada por seus seguidores e devotos, mas assim como Sócrates e Inácio,
Cipriano não quis cooperar com eles e morreu em público de modo nobre nas mãos
de um espadachim.
Assim como São Francisco, Cipriano também entendeu a mensagem
de Jesus. O que nos leva a crer que antes de sua conversão, ele era apegado ao
dinheiro. Ao contrário de muitos “cristãos” atuais, que lutam desesperadamente
para construir e armazenar tesouro aqui nesta Terra, Cipriano ajudou os
necessitados com a fortuna que era de seus pais.
A organização Cipriano ele desenvolveu em relação à
hierarquia eclesiástica, contrariando as palavras de Jesus que nos ensina a
sermos servos no lugar de mestres, pais, papas, padres, pastores etc., talvez tenha
sido necessária naquele momento histórico, entretanto, serviu de base para o desenvolvimento
das ganâncias humanas aprimoradas pelo domínio das massas e práticas de barbáries
tão perversas ou piores que a de nossos atuais políticos brasileiros.
Na verdade, sua intenção foi boa, o problema é que os
sucessores não compreendem totalmente as razões pelas quais são desenvolvidas certas
maneiras de trabalhar, ou, como acontece na maioria dos casos, se aproveitam dessa
sistemática para trabalhar em benefício próprio, devido não terem comunhão com
Deus. Seria maravilhoso se padres ou papas, que é a tradução para pai, agissem
como tal, beneficiando os “filhos”. Da mesma forma, os chamados pastores, que “ao
pé da letra” deveria cuidar das ovelhas, seria esplendoroso se verdadeiramente
o fizessem como Cristo orientou ao apóstolo Pedro - apóstolo significa enviado em
grego, não é um título -, todavia, o que temos visto, em grande parte, são lobos
com pele de ovelhas ostentando o “título de pastor”.
Deixemos aqui três versículos, para que todos reflitam e,
quem sabe, mudem o modo de pensar e de agir. “Vós, porém, não queirais ser
chamados Rabi [mestre em hebraico], porque um só é o vosso Mestre, a saber,
o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai,
porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres,
porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso
servo” (Mt 23:8-11, grifo nosso).
Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
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