HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 24



Cipriano de Cartago Promove a Unidade



Cipriano nasceu em Cartago por volta do ano 200. É possível que tenha passado boa parte de seu tempo administrando as vastas propriedades da família. Pouco depois de sua conversão, começou a distribuir suas riquezas aos pobres, o que o tornou querido das massas oprimidas de cristãos e perseguidos em Cartago e arredores.



Viveu, trabalhou e escreveu num momento crucial da vida do cristianismo. Sua contribuição encontra-se não em uma ideia ou sistema da filosofia e da revelação divina completamente nova, mas em suas ideias a respeito da liderança e em sua própria liderança na igreja em um período de grande perseguição, rixas, cismas e heresia dentro do cristianismo. Exerceu e ensinou um estilo de liderança cristã que se tornou normativo na igreja católica e ortodoxa por mil anos e que continua sendo a visão básica da estrutura e liderança eclesiásticas no ramo católico romano do cristianismo, embora a maioria dos protestantes a rejeite.



Cipriano padronizou o papel do bispo dentro da Grande Igreja e tornou-o absolutamente essencial para a eclesiologia do cristianismo católico e ortodoxo. A vida e o pensamento de Cipriano é, de muitas maneiras, a resposta à pergunta frequentemente feita: “Como a igreja cristã tornou-se católica?”. Ou seja, como as ideias de Cipriano a respeito do cargo de bispo contribuíram grandemente para fazer do cristianismo, tanto o oriental como o ocidental, uma hierarquia espiritual altamente estruturada.



Obviamente, Cipriano não inventou essa eclesiologia episcopal. Ela foi desenvolvida muito tempo antes dele se interessar pelo assunto. Aliás, Cipriano tem sido frequentemente chamado “o Inácio ocidental” por causa de sua ênfase em relação aos bispos e à obediência dos cristãos a estes.



Cipriano e todos quanto com ele concordassem costumavam dizer “Quem não tem a igreja como mãe não pode ter Deus como Pai” e “fora da igreja não existe salvação”.



Os primeiros bispos foram homens semelhantes a Timóteo, nomeados pelos apóstolos ou pelas congregações cristãs para fornecerem uma liderança espiritual. Quando irrompiam conflitos nas comunidades cristãs das cidades do Império Romano, os bispos tidos em alta estima, como Clemente de Roma e Inácio de Antioquia, escreviam cartas conclamando os cristãos leigos a respeitar e obedecer aos bispos. No decorrer do século II, no entanto, o cargo de bispo paulatinamente tornou-se um cargo administrativo no qual o ministro cristão supervisionava as necessidades espirituais e administrativas de congregações em determinadas áreas.



A união da Igreja com o Império parecia natural para muitos líderes cristãos, muito antes de se pensar em um imperador cristão. Constantino, o primeiro imperador a se considerar cristão, era algo inimaginável no século III, pois em geral os imperadores eram hostis ao cristianismo.



Ocasionalmente, sacerdotes ordenados por bispos que se desviavam eram rejeitados pelas congregações por essa simples razão. A perseguição e a consequente confusão ameaçavam produzir o caos total no cristianismo, foi quando Cipriano entrou em cena para acabar com a confusão e fornecer um conjunto de diretrizes que unisse todas as congregações, ministros e cada crente cristão em volta dos bispos. O resultado foi a formação da eclesiologia católica. Essa mesma eclesiologia é aceita pela Igreja Ortodoxa Oriental.



O historiador eclesiástico Hans von Campenhausen resume a relevância de Cipriano nesse respeito: “Com Cipriano, começou a linhagem de bispos 'curiais' que tentavam desempenhar seu cargo eclesiástico no estilo magisterial dos cônsules e procônsules [do império], com quem não se importava em ser comparado”.



Além das numerosas epístolas, duas de suas maiores obras destacam-se por sua importância especial: “Dos Desviados” e “Da Unidade da Igreja”.



Segundo seu biógrafo, Cipriano teve uma visão da própria morte, pouco antes de ser detido pelas autoridades romanas. A fuga de Cipriano foi planejada por seus seguidores e devotos, mas assim como Sócrates e Inácio, Cipriano não quis cooperar com eles e morreu em público de modo nobre nas mãos de um espadachim.



Assim como São Francisco, Cipriano também entendeu a mensagem de Jesus. O que nos leva a crer que antes de sua conversão, ele era apegado ao dinheiro. Ao contrário de muitos “cristãos” atuais, que lutam desesperadamente para construir e armazenar tesouro aqui nesta Terra, Cipriano ajudou os necessitados com a fortuna que era de seus pais.



A organização Cipriano ele desenvolveu em relação à hierarquia eclesiástica, contrariando as palavras de Jesus que nos ensina a sermos servos no lugar de mestres, pais, papas, padres, pastores etc., talvez tenha sido necessária naquele momento histórico, entretanto, serviu de base para o desenvolvimento das ganâncias humanas aprimoradas pelo domínio das massas e práticas de barbáries tão perversas ou piores que a de nossos atuais políticos brasileiros.



Na verdade, sua intenção foi boa, o problema é que os sucessores não compreendem totalmente as razões pelas quais são desenvolvidas certas maneiras de trabalhar, ou, como acontece na maioria dos casos, se aproveitam dessa sistemática para trabalhar em benefício próprio, devido não terem comunhão com Deus. Seria maravilhoso se padres ou papas, que é a tradução para pai, agissem como tal, beneficiando os “filhos”. Da mesma forma, os chamados pastores, que “ao pé da letra” deveria cuidar das ovelhas, seria esplendoroso se verdadeiramente o fizessem como Cristo orientou ao apóstolo Pedro - apóstolo significa enviado em grego, não é um título -, todavia, o que temos visto, em grande parte, são lobos com pele de ovelhas ostentando o “título de pastor”.



Deixemos aqui três versículos, para que todos reflitam e, quem sabe, mudem o modo de pensar e de agir. “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi [mestre em hebraico], porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo” (Mt 23:8-11, grifo nosso).



Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.

Monteiro

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