A Teologia
de Gregório Nazianzeno
Da
mesma forma que Basílio, Gregório Nazianzeno argumentou que a salvação depende
de haver uma só essência ou substância divina e três participantes dela,
distintos, mas iguais entre si. Juntos explicaram a qualidade trina e una de
Deus mediante o emprego dos conceitos “ousia”
(substância) e “hypostases”
(subsistência ou pessoa). Embora todas as três hypostases sejam consubstanciais (homoousios), não são
idênticas.
Todo
ser que tem um início no tempo é criatura e, nesse caso, diferente das outras
criaturas somente no grau. Assim, se o Filho ou o Espírito começou a existir no
tempo, é do tipo criatura e se encontra na mesma categoria dos seres humanos. Por
isso, seria incapaz de salvar, pois se estivesse na mesma categoria que nós, não
poderia nos unir à divindade.
Gregório
explicou que assim como Adão, Eva e Sete eram uma só família humana que
compartilhava da mesma natureza, sem deixar de ser três identidades distintas,
também o Pai, o Filho e o Espírito Santo constituem uma só família divina, que
compartilham da mesma glória e essência, mas são pessoas distintas entre si. Os
teólogos ocidentais tendem a recuar diante dessa ideia.
A verdadeira
contribuição de Gregório ao pensamento trinitário acha-se na interpretação da palavra,
usualmente traduzida por “pessoas” como relacionamento. Dentro da própria
Trindade não existem “três seres”, mas três “relacionamentos”, e os
relacionamentos não são nem substâncias (seres) nem meramente ações (modos de
atividade). Este conceito passou a fazer parte da bagagem comum de ideias da
teologia da Trindade na Igreja Oriental e também aparecia ocasionalmente no
ocidente latino.
Embora
não seja possível conceber plenamente um relacionamento como uma realidade no
mesmo nível que um ser (substância) ou até mesmo que uma ação (evento), a grande
contribuição de Gregório foi introduzir na corrente do pensamento cristão
exatamente essa ideia: a realidade ontológica dos relacionamentos. As três
pessoas de Deus, portanto, não devem ser entendidas como seres individuais, como núcleos
independentes de consciência e vontade, mas como verdadeiros relacionamentos
interdependentes dentro de uma única comunidade de existência e substância.
Portanto,
para Gregório, “a característica do Pai é a de não ser gerado; [...] a do Filho
é a de ser gerado; [...] e a do Espírito é a de processão. [...] Com esses
termos, Gregório acrescenta um novo sentido à fórmula característica dos três
capadócios: um ousia e três hyspotases”.
Outra
importante contribuição à teologia encontra-se na oposição aos novos ensinos a
respeito de Jesus Cristo apresentados por outro teólogo trinitário, chamado
Apolinário. Este bispo de Laodicéia, extremamente influenciado por Atanásio, rejeitou
veementemente todas as formas de subordinacionismo.
A ideia
básica é que os seres humanos são compostos de três aspectos distintos e
separáveis: o corpo, a alma e a alma racional, ou espírito. Essa composição
tripartite da humanidade é basicamente uma ideia emprestada da filosofia
platônica e não das Escrituras, embora o NT realmente faça referência aos três
aspectos. Segundo Apolinário, o Logos eterno assumiu o lugar da alma racional
de Jesus. Seu corpo e sua alma eram humanos, mas seu espírito era o Logos
divino.
Obviamente
a impressão que se tem dessa cristologia é de “Deus em um corpo”, um ser
onisciente que habita um corpo de criatura, usando-o como um veículo, sem
realmente se tornar humano e nem experimentar as limitações e sofrimentos
humanos.
Gregório
frequentemente empregava o termo “theosis”
(divinização ou deificação) em relação ao processo da salvação e, como
Atanásio, considerava a salvação o caminho da graça que transformava os seres
humanos em participantes parciais da natureza divina através da “troca
maravilhosa” da encarnação. Em outras palavras, o Filho de Deus veio “para que
eu também fosse feito Deus, assim como ele foi feito homem”.
Cristo
restaurou o potencial perdido por Adão e é isso o que as Escrituras querem
dizer quando O descrevem como o “primogênito entre muitos irmãos”. Para Gregório,
portanto, se a humanidade de Jesus Cristo não era completa, então a nossa
natureza humana não será totalmente salva através dela. Assim expressou esse conceito:
“O que não foi assumido não foi sanado”. Em outras palavras, se a humanidade de
Jesus não tivesse uma natureza humana completa, a “troca maravilhosa” não
funcionaria.
A fim de salvar a humanidade, Jesus
Cristo teria que ser verdadeiramente humano e possuir todos os aspectos
essenciais de um ser humano, inclusive uma mente humana, e também de ser
verdadeiramente divino e possuir uma natureza divina semelhante à própria existência
do Deus Pai. Até mesmo os cristãos que não aceitam o conceito da divinização na
salvação, o conceito da “troca maravilhosa” na encarnação, simpatizam com a
afirmação da completa humanidade e verdadeira divindade de Jesus.
“O qual nos tirou da potestade
das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; em quem temos
a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do
Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas
todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam
tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado
por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas
subsistem por ele” (Cl 1:13-17).
Que o Senhor nos abençoe e nos
guarde.
Monteiro
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