HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 49



A Teologia de Gregório Nazianzeno

Da mesma forma que Basílio, Gregório Nazianzeno argumentou que a salvação depende de haver uma só essência ou substância divina e três participantes dela, distintos, mas iguais entre si. Juntos explicaram a qualidade trina e una de Deus mediante o emprego dos conceitos “ousia” (substância) e “hypostases” (subsistência ou pessoa). Embora todas as três hypostases sejam consubstanciais (homoousios), não são idênticas.

Todo ser que tem um início no tempo é criatura e, nesse caso, diferente das outras criaturas somente no grau. Assim, se o Filho ou o Espírito começou a existir no tempo, é do tipo criatura e se encontra na mesma categoria dos seres humanos. Por isso, seria incapaz de salvar, pois se estivesse na mesma categoria que nós, não poderia nos unir à divindade.

Gregório explicou que assim como Adão, Eva e Sete eram uma só família humana que compartilhava da mesma natureza, sem deixar de ser três identidades distintas, também o Pai, o Filho e o Espírito Santo constituem uma só família divina, que compartilham da mesma glória e essência, mas são pessoas distintas entre si. Os teólogos ocidentais tendem a recuar diante dessa ideia.

A verdadeira contribuição de Gregório ao pensamento trinitário acha-se na interpretação da palavra, usualmente traduzida por “pessoas” como relacionamento. Dentro da própria Trindade não existem “três seres”, mas três “relacionamentos”, e os relacionamentos não são nem substâncias (seres) nem meramente ações (modos de atividade). Este conceito passou a fazer parte da bagagem comum de ideias da teologia da Trindade na Igreja Oriental e também aparecia ocasionalmente no ocidente latino.

Embora não seja possível conceber plenamente um relacionamento como uma realidade no mesmo nível que um ser (substância) ou até mesmo que uma ação (evento), a grande contribuição de Gregório foi introduzir na corrente do pensamento cristão exatamente essa ideia: a realidade ontológica dos relacionamentos. As três pessoas de Deus, portanto, não devem ser entendidas como seres individuais, como núcleos independentes de consciência e vontade, mas como verdadeiros relacionamentos interdependentes dentro de uma única comunidade de existência e substância.

Portanto, para Gregório, “a característica do Pai é a de não ser gerado; [...] a do Filho é a de ser gerado; [...] e a do Espírito é a de processão. [...] Com esses termos, Gregório acrescenta um novo sentido à fórmula característica dos três capadócios: um ousia e três hyspotases”.

Outra importante contribuição à teologia encontra-se na oposição aos novos ensinos a respeito de Jesus Cristo apresentados por outro teólogo trinitário, chamado Apolinário. Este bispo de Laodicéia, extremamente influenciado por Atanásio, rejeitou veementemente todas as formas de subordinacionismo.

A ideia básica é que os seres humanos são compostos de três aspectos distintos e separáveis: o corpo, a alma e a alma racional, ou espírito. Essa composição tripartite da humanidade é basicamente uma ideia emprestada da filosofia platônica e não das Escrituras, embora o NT realmente faça referência aos três aspectos. Segundo Apolinário, o Logos eterno assumiu o lugar da alma racional de Jesus. Seu corpo e sua alma eram humanos, mas seu espírito era o Logos divino.

Obviamente a impressão que se tem dessa cristologia é de “Deus em um corpo”, um ser onisciente que habita um corpo de criatura, usando-o como um veículo, sem realmente se tornar humano e nem experimentar as limitações e sofrimentos humanos.

Gregório frequentemente empregava o termo “theosis” (divinização ou deificação) em relação ao processo da salvação e, como Atanásio, considerava a salvação o caminho da graça que transformava os seres humanos em participantes parciais da natureza divina através da “troca maravilhosa” da encarnação. Em outras palavras, o Filho de Deus veio “para que eu também fosse feito Deus, assim como ele foi feito homem”.

Cristo restaurou o potencial perdido por Adão e é isso o que as Escrituras querem dizer quando O descrevem como o “primogênito entre muitos irmãos”. Para Gregório, portanto, se a humanidade de Jesus Cristo não era completa, então a nossa natureza humana não será totalmente salva através dela. Assim expressou esse conceito: “O que não foi assumido não foi sanado”. Em outras palavras, se a humanidade de Jesus não tivesse uma natureza humana completa, a “troca maravilhosa” não funcionaria.

A fim de salvar a humanidade, Jesus Cristo teria que ser verdadeiramente humano e possuir todos os aspectos essenciais de um ser humano, inclusive uma mente humana, e também de ser verdadeiramente divino e possuir uma natureza divina semelhante à própria existência do Deus Pai. Até mesmo os cristãos que não aceitam o conceito da divinização na salvação, o conceito da “troca maravilhosa” na encarnação, simpatizam com a afirmação da completa humanidade e verdadeira divindade de Jesus.

“O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl 1:13-17).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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