É uma teologia toda permeada por uma noção
mística da total incompreensibilidade de Deus, com certa influência do
neoplatonismo, que aparece em vários de seus ensinos. Argumenta, por exemplo, que
a essência de Deus é tão transcendente e tão incompreensível que a única
maneira de descrevê-la é de forma negativa, isto é, declarando o que Deus não é
em vez de o que Ele é.
Para conhecer verdadeiramente a Deus, a pessoa
teria de passar pela experiência mística. No entanto, Gregório não rejeitava o
argumento racional a respeito de Deus fundamentado na revelação, contanto que não
acabasse com o mistério.
Outro aspecto da teologia de Gregório de Nissa
que reflete a influência do neoplatonismo é a explicação do mal como a privação
de todo o bem. A origem de todo o mal do mundo não provém de Deus, mas do abuso
que os seres humanos fazem do livre-arbítrio ao se desviarem das coisas
espirituais e buscarem as materiais.
O mal não é uma substância, nem sequer é matéria,
é a ausência ou falta da bondade, sendo esta um aspecto da própria existência.
Deus é a plenitude da existência e, por isso, é perfeitamente bom. Deus é
perfeitamente bom e, portanto, a plenitude da existência. A existência e a
bondade são inseparáveis.
A contribuição de Gregório de Nissa ao
pensamento trinitário está na tentativa de refutar a acusação de triteísmo
feita por seus inimigos:
“... Pedro, Tiago e João, pertencendo a uma só
natureza humana, são chamados três homens, e não é nenhum absurdo descrever os
que estão unidos pela natureza. Se, portanto, no caso supra, o costume admite
tal coisa [...] como é que no caso das nossas declarações a respeito dos
mistérios da fé, embora confessemos as Três Pessoas e não reconheçamos nenhuma
diferença de natureza entre elas, estaríamos de alguma forma em conflito com a
nossa confissão, quando dizemos que a Divindade do Pai e do Filho e do Espírito
Santo é uma só, mas não permitimos que os homens digam ‘há três deuses?’”.
Se Deus é uma só existência – uma só
substância – e não três deuses, as três pessoas devem sempre agir juntas em
todas as coisas. Três seres humanos compartilham da mesma natureza, ou
essência, mas, ao mesmo tempo, são geralmente considerados três seres por causa
de suas operações ou ações separadas.
Pedro, Tiago e João são três seres diferentes,
não porque um seja mais humano do que o outro, mas porque cada um age de modo
distinto e independente. Mas em Deus toda a atividade é uma só, toda operação é
comum às três pessoas da Divindade. Não somos informados de que o Pai faça
alguma coisa por conta própria sem que o Filho opere conjuntamente, nem,
tampouco, que o Filho tenha qualquer operação especial à parte do Espírito
Santo.
Toda atividade de Deus é comum às três
pessoas, mas não podemos chamar de três deuses a esse “poder divino e
superintendente”. O Filho assumiu corpo e natureza humanos na encarnação, mas
essa operação não era independente ou separado do Pai e do Espírito Santo. Os
três sempre agem juntos e nunca de modo independente. O Pai é a causa, o
fundamento e a origem eterna do Filho e do Espírito Santo. O Filho é aquele que
é eternamente gerado pelo Pai e o Espírito Santo procede eternamente do
Pai.
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu
conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer,
e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que
todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um” (Jo
10:27-30).
Que o Senhor nos abençoe e nos
guarde.
Monteiro
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