A
teologia de Basílio de Cesaréia
Basílio,
como os demais pais capadócios, inspirava-se nas Escrituras, em Platão,
Orígenes e Atanásio, tinha como meta estabelecer definitivamente o grande
mistério da Trindade e Unidade de Deus na ortodoxia cristã, ou seja, havia em
comum, o desejo de destruir o arianismo e o sabelianismo e estabelecer a fé
ortodoxa de que Deus é um em essência infinita e incompreensiva, compartilhada
igualmente por três Pessoas distintas e eternamente inseparáveis.
Seus
principais oponentes foram os eunomianos, arianos radicais que subordinavam o
Filho ao Pai e argumentavam que a própria essência do Pai é a condição de “não
gerado”, e os pneumatômacos ou macedonianos, radicais que subordinavam o
Espírito ao Pai e ao Filho, argumentando que o Espírito é um ser criado, uma
força de Deus enviada pelo Pai por meio do Filho. A principal asseveração dos
eunomianos contra a Trindade era que a essência de Deus é não gerada e por isso
o Filho não poderia ser uma essência com o Pai porque Ele era gerado.
Na
obra “Contra Eunômio”, Basílio respondeu com quatro argumentos principais:
(1)
Desprezou a alegação de Eunômio no sentido de este ter captado a própria
essência de Deus. Declarou que a essência de Deus é incompreensível, porque
Deus é santo e Seus caminhos não são os nossos caminhos e os Seus pensamentos
não são os nossos pensamentos. Baseou-se tanto das Escrituras como na filosofia
grega, pois esta enfatizava a incapacidade da mente humana de conhecer a
divindade como ela conhece a si mesma. Acusou os eunomianos de orgulharem-se
das próprias capacidades, pois alegar conhecer a essência de Deus como não gerado
é a epítome da sabedoria pecaminosa. Podemos conhecer o ser de Deus e suas
propriedades, segundo Sua revelação, mas Sua essência infinita e eterna está além
da nossa compreensão finita.
(2)
Acusou Eunômio de negar a analogia subordinacionistas entre o gerar divino e o
gerar humano, isto é, o fato de que o gerar humano sempre existe no tempo e no
espaço e sempre subentende um tipo de inferioridade do gerado diante de quem o
gerou não é motivo para concluir que o fato de Deus gerar um Filho implica
necessariamente inferioridade do Filho em relação ao Pai.
(3)
Refutou a alegação de Eunômio de que a qualidade de não gerado sempre acompanha
a eternidade de tal maneira que ser gerado equivale a ser temporal, e não
eterno. Basílio não poupou esforços para demonstrar logicamente que o processo
de geração pode ser eterno. Para isso apelou para analogias como, por exemplo,
os raios solares. Os raios do sol são tão antigos quanto o próprio sol. Nunca
houve um tempo em que o sol tivesse existido sem seus raios. Sempre o sol gerou
a sua radiância. Assim também o Pai gera eternamente o Filho, e o Filho é
eternamente gerado pelo Pai.
(4) Argumentou que se o Filho de Deus é
meramente uma criatura, conforme alegava Eunômio, a humanidade continua
destituída de uma revelação genuína da divindade. No caso de um ser Pessoal,
como Deus, somente Ele pode se revelar. Se Jesus Cristo não é Deus, então Deus
ainda não se autorrevelou. Se Jesus Cristo é meramente uma criatura, por mais
exaltado que seja, a humanidade ainda não presenciou a verdadeira revelação da
face de Deus.
Em “Contra os Pneumatômacos”, sua principal
obra, Basílio apelou às Escrituras, especialmente à ordem de Cristo sobre a
prática do batismo, no fim do Evangelho segundo Mateus: “Se [...] o Espírito
está associado ao Pai e ao Filho, e ninguém pode honestamente afirmar o
contrário, então não podem nos culpar por seguirmos as palavras das
Escrituras”. Apelou também a exemplos em Atos dos apóstolos onde é declarado
que somente o Espírito Santo conhece as coisas de Deus (At 5.9). Ressaltou que
mesmo os pneumatômacos adoravam o Espírito Santo nas suas liturgias divinas
junto com o Pai e o Filho, e que seria blasfêmia se o Espírito Santo não fosse
Deus.
Entre outros argumentos declarou que é o
Espírito quem aplica à nossa vida a salvação de Deus. Como concebê-lo uma
criatura e não Deus? Naturalmente, Basílio estava mais do que disposto a
reconhecer certo tipo de subordinacionismo do Espírito diante do Pai, pois o
Pai é a fonte eterna de toda a divindade, sendo dele que o Filho é gerado e que
o Espírito procede.
Em “Do Espírito Santo” declarou guerra
teológica contra os que de alguma forma negavam o Espírito: “Nós, porém, não
seremos relapsos na defesa da verdade. Não abandonaremos covardemente a causa. O
Senhor nos entregou como doutrina necessária e salvífica que o Espírito Santo
deve ser colocado na mesma categoria com o Pai”.
Os subordinacionistas e os sabelianos
argumentavam que toda a ideia de três pessoas iguais implicava necessariamente,
três naturezas ou substancias diferentes. Em resposta a tudo isso, Basílio
declarou: “Contra os que nos acusam de triteístas, respondemos que confessamos
um só Deus, não quanto ao número, mas quanto à natureza”.
Basílio ilustrou a distinção entre as palavras
gregas “ousia” e “hypostasis” – substância e subsistência – ao referir-se à
qualidade humana de três homens hipotéticos distintos: Pedro, Tiago e João. Todos
os três são seres humanos e compartilham da mesma natureza universal, ou
essência (ousia), da humanidade. Ao mesmo tempo, cada um apresenta
características peculiares. Pedro é mais alto que Tiago e João. Isso nada tem
que ver com uma desigualdade essencial da sua qualidade humana. O mesmo
acontece com as “hypostasis” do Pai, do Filho e do Espírito Santo: o Pai é não gerado,
o Filho é gerado e o Espírito é procedente do Pai.
Somente um tolo diria que o arco-íris é feito
de várias coisas ou substâncias diferentes. Também, somente um tolo diria que
não há distinção entre as cores do arco-íris. As cores não são partes iguais
que podem ser tiradas separadamente deixando o arco-íris intacto. Da mesma
forma, Deus é um único ser ou substância divina, formado de três subsistências
distintas, porém inseparáveis.
“E, quando o viram, o adoraram; mas alguns
duvidaram. E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no
céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas
as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias,
até a consumação dos séculos. Amém (Mt 28:17-20).
Já foi comentado na parte
1 destes escritos que tudo que está sendo postado aqui não passam de meros resumos
do livro “História da Teologia Cristã” de Roger Olson. Todavia, nada custa
reforçar esse lembrete, pois é provável que alguns leitores queiram conhecer
mais a fundo as ideias comentadas, e mesmo as omitidas. Neste caso, faz-se necessário
consultar a obra original.
Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
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