HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 48


A teologia de Basílio de Cesaréia

Basílio, como os demais pais capadócios, inspirava-se nas Escrituras, em Platão, Orígenes e Atanásio, tinha como meta estabelecer definitivamente o grande mistério da Trindade e Unidade de Deus na ortodoxia cristã, ou seja, havia em comum, o desejo de destruir o arianismo e o sabelianismo e estabelecer a fé ortodoxa de que Deus é um em essência infinita e incompreensiva, compartilhada igualmente por três Pessoas distintas e eternamente inseparáveis.

Seus principais oponentes foram os eunomianos, arianos radicais que subordinavam o Filho ao Pai e argumentavam que a própria essência do Pai é a condição de “não gerado”, e os pneumatômacos ou macedonianos, radicais que subordinavam o Espírito ao Pai e ao Filho, argumentando que o Espírito é um ser criado, uma força de Deus enviada pelo Pai por meio do Filho. A principal asseveração dos eunomianos contra a Trindade era que a essência de Deus é não gerada e por isso o Filho não poderia ser uma essência com o Pai porque Ele era gerado.

Na obra “Contra Eunômio”, Basílio respondeu com quatro argumentos principais:

(1) Desprezou a alegação de Eunômio no sentido de este ter captado a própria essência de Deus. Declarou que a essência de Deus é incompreensível, porque Deus é santo e Seus caminhos não são os nossos caminhos e os Seus pensamentos não são os nossos pensamentos. Baseou-se tanto das Escrituras como na filosofia grega, pois esta enfatizava a incapacidade da mente humana de conhecer a divindade como ela conhece a si mesma. Acusou os eunomianos de orgulharem-se das próprias capacidades, pois alegar conhecer a essência de Deus como não gerado é a epítome da sabedoria pecaminosa. Podemos conhecer o ser de Deus e suas propriedades, segundo Sua revelação, mas Sua essência infinita e eterna está além da nossa compreensão finita.

(2) Acusou Eunômio de negar a analogia subordinacionistas entre o gerar divino e o gerar humano, isto é, o fato de que o gerar humano sempre existe no tempo e no espaço e sempre subentende um tipo de inferioridade do gerado diante de quem o gerou não é motivo para concluir que o fato de Deus gerar um Filho implica necessariamente inferioridade do Filho em relação ao Pai.

(3) Refutou a alegação de Eunômio de que a qualidade de não gerado sempre acompanha a eternidade de tal maneira que ser gerado equivale a ser temporal, e não eterno. Basílio não poupou esforços para demonstrar logicamente que o processo de geração pode ser eterno. Para isso apelou para analogias como, por exemplo, os raios solares. Os raios do sol são tão antigos quanto o próprio sol. Nunca houve um tempo em que o sol tivesse existido sem seus raios. Sempre o sol gerou a sua radiância. Assim também o Pai gera eternamente o Filho, e o Filho é eternamente gerado pelo Pai.

(4) Argumentou que se o Filho de Deus é meramente uma criatura, conforme alegava Eunômio, a humanidade continua destituída de uma revelação genuína da divindade. No caso de um ser Pessoal, como Deus, somente Ele pode se revelar. Se Jesus Cristo não é Deus, então Deus ainda não se autorrevelou. Se Jesus Cristo é meramente uma criatura, por mais exaltado que seja, a humanidade ainda não presenciou a verdadeira revelação da face de Deus.

Em “Contra os Pneumatômacos”, sua principal obra, Basílio apelou às Escrituras, especialmente à ordem de Cristo sobre a prática do batismo, no fim do Evangelho segundo Mateus: “Se [...] o Espírito está associado ao Pai e ao Filho, e ninguém pode honestamente afirmar o contrário, então não podem nos culpar por seguirmos as palavras das Escrituras”. Apelou também a exemplos em Atos dos apóstolos onde é declarado que somente o Espírito Santo conhece as coisas de Deus (At 5.9). Ressaltou que mesmo os pneumatômacos adoravam o Espírito Santo nas suas liturgias divinas junto com o Pai e o Filho, e que seria blasfêmia se o Espírito Santo não fosse Deus.

Entre outros argumentos declarou que é o Espírito quem aplica à nossa vida a salvação de Deus. Como concebê-lo uma criatura e não Deus? Naturalmente, Basílio estava mais do que disposto a reconhecer certo tipo de subordinacionismo do Espírito diante do Pai, pois o Pai é a fonte eterna de toda a divindade, sendo dele que o Filho é gerado e que o Espírito procede.

Em “Do Espírito Santo” declarou guerra teológica contra os que de alguma forma negavam o Espírito: “Nós, porém, não seremos relapsos na defesa da verdade. Não abandonaremos covardemente a causa. O Senhor nos entregou como doutrina necessária e salvífica que o Espírito Santo deve ser colocado na mesma categoria com o Pai”.

Os subordinacionistas e os sabelianos argumentavam que toda a ideia de três pessoas iguais implicava necessariamente, três naturezas ou substancias diferentes. Em resposta a tudo isso, Basílio declarou: “Contra os que nos acusam de triteístas, respondemos que confessamos um só Deus, não quanto ao número, mas quanto à natureza”.

Basílio ilustrou a distinção entre as palavras gregas “ousia” e “hypostasis” – substância e subsistência – ao referir-se à qualidade humana de três homens hipotéticos distintos: Pedro, Tiago e João. Todos os três são seres humanos e compartilham da mesma natureza universal, ou essência (ousia), da humanidade. Ao mesmo tempo, cada um apresenta características peculiares. Pedro é mais alto que Tiago e João. Isso nada tem que ver com uma desigualdade essencial da sua qualidade humana. O mesmo acontece com as “hypostasis” do Pai, do Filho e do Espírito Santo: o Pai é não gerado, o Filho é gerado e o Espírito é procedente do Pai.

Somente um tolo diria que o arco-íris é feito de várias coisas ou substâncias diferentes. Também, somente um tolo diria que não há distinção entre as cores do arco-íris. As cores não são partes iguais que podem ser tiradas separadamente deixando o arco-íris intacto. Da mesma forma, Deus é um único ser ou substância divina, formado de três subsistências distintas, porém inseparáveis.

“E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém (Mt 28:17-20).

Já foi comentado na parte 1 destes escritos que tudo que está sendo postado aqui não passam de meros resumos do livro “História da Teologia Cristã” de Roger Olson. Todavia, nada custa reforçar esse lembrete, pois é provável que alguns leitores queiram conhecer mais a fundo as ideias comentadas, e mesmo as omitidas. Neste caso, faz-se necessário consultar a obra original.

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.

Monteiro

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