HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 41

A Teologia Metafísica de Atanásio

Atanásio seguiu três linhas de raciocínio teológico no tocante ao relacionamento entre o Filho de Deus e o Pai, uma delas é a metafísica. Nesta, apoiou a igualdade do Filho com o Pai. O âmago do argumento é que se o Pai é Deus, o Filho deve forçosamente também ser Deus, pois de outra forma, o Pai teria passado por uma mudança ao se tornar Pai. Se houve um tempo em que o Filho não existia, consequentemente houve um tempo em que o Pai não era Pai.

Para Atanásio, o Filho faz parte da definição de Deus como Pai. Ele afirma que “o Filho de Deus é eterno, pois a sua natureza é sempre perfeita”. Dizia que ao sustentarem que houve tempo em que o Filho não existia, despojam Deus do seu Verbo e dizem a respeito de Deus que houve tempo em que não tinha seu Verbo e Sabedoria e que a Luz em tempos passados não irradiava luz e que a fonte tinha sido estéril e seca. Negar a divindade eterna do Filho era um ultraje, e esse ataque faz a blasfêmia recair contra o Pai.

Atanásio explorava a forte crença na imutabilidade de Deus contra o subordinacionismo radical. Se Deus “se tornou” Pai, passou por uma modificação. Se o Filho de Deus é a imagem expressa do Pai e de sua radiância e luz, sendo que as Escrituras ensinam claramente todas essas coisas, então Ele sempre existiu com o Pai, mesmo que tenha sido gerado dEle: “Mas Deus não é como o homem, conforme a Escritura tem dito; mas é existente e eterno; por isso, também o seu verbo é existente e eterno com o Pai como a radiância da luz. [...] Portanto, ele também é Deus, por ser a Imagem de Deus, pois ‘o Verbo era Deus’, diz a Escritura”.

Esse argumento metafísico da igualdade entre o Filho de Deus e o próprio Deus, apresentou um problema quando Atanásio passou a descrever a natureza da humanidade e divindade de Jesus Cristo em “Da encarnação do Verbo”. Pois se a divindade é rigorosamente imutável, como poderia unir-se, de forma genuína, à existência humana? Os arianos aproveitaram para dizer que o Logos não é divino. Mas Atanásio recorreu a Orígenes e outros teólogos em busca de uma solução e concluiu que o Filho não mudou ao entrar na existência humana em Jesus Cristo.

Atanásio foi muito longe nessa direção. A fim de preservar a verdadeira divindade do Filho com igualdade ao Pai, achava que precisava salvaguardá-lo de qualquer mácula de criatura na encarnação. Referia-se à encarnação como o emprego pelo Logos de um corpo humano. Em “Da encarnação do Verbo”, disse que mesmo na vida terrestre, o Logos não estava preso ao corpo, mas que fazia uso dele, de modo que não somente estava nele, como estava em todas as coisas e, embora fosse externo ao universo, permanecia somente no seu Pai.

Cristológicos heréticos posteriores apelariam a essa exata questão e a igreja teria que deixar despercebido o fato de que o venerável bispo de Alexandria parecia desvincular a divindade de Cristo da sua humanidade. Felizmente, a discussão nesse ponto não cessa por aí.

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. João testificou dele, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: o que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou” (Jo 1:14-18).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.

Monteiro

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