Atanásio seguiu três linhas de
raciocínio teológico no tocante ao relacionamento entre o Filho de Deus e o Pai,
uma delas é a metafísica. Nesta, apoiou a igualdade do Filho com o Pai. O âmago
do argumento é que se o Pai é Deus, o Filho deve forçosamente também ser Deus,
pois de outra forma, o Pai teria passado por uma mudança ao se tornar Pai. Se
houve um tempo em que o Filho não existia, consequentemente houve um tempo em
que o Pai não era Pai.
Para Atanásio, o Filho faz parte
da definição de Deus como Pai. Ele afirma que “o Filho de Deus é eterno, pois a
sua natureza é sempre perfeita”. Dizia que ao sustentarem que houve tempo em
que o Filho não existia, despojam Deus do seu Verbo e dizem a respeito de Deus
que houve tempo em que não tinha seu Verbo e Sabedoria e que a Luz em tempos
passados não irradiava luz e que a fonte tinha sido estéril e seca. Negar a
divindade eterna do Filho era um ultraje, e esse ataque faz a blasfêmia recair
contra o Pai.
Atanásio explorava a forte crença
na imutabilidade de Deus contra o subordinacionismo radical. Se Deus “se
tornou” Pai, passou por uma modificação. Se o Filho de Deus é a imagem expressa
do Pai e de sua radiância e luz, sendo que as Escrituras ensinam claramente
todas essas coisas, então Ele sempre existiu com o Pai, mesmo que tenha sido
gerado dEle: “Mas Deus não é como o homem, conforme a Escritura tem dito; mas é
existente e eterno; por isso, também o seu verbo é existente e eterno com o Pai
como a radiância da luz. [...] Portanto, ele também é Deus, por ser a Imagem de
Deus, pois ‘o Verbo era Deus’, diz a Escritura”.
Esse argumento metafísico da
igualdade entre o Filho de Deus e o próprio Deus, apresentou um problema quando
Atanásio passou a descrever a natureza da humanidade e divindade de Jesus
Cristo em “Da encarnação do Verbo”.
Pois se a divindade é rigorosamente imutável, como poderia unir-se, de forma
genuína, à existência humana? Os arianos aproveitaram para dizer que o Logos não é divino. Mas Atanásio recorreu a
Orígenes e outros teólogos em busca de uma solução e concluiu que o Filho não
mudou ao entrar na existência humana em Jesus Cristo.
Atanásio foi muito longe nessa
direção. A fim de preservar a verdadeira divindade do Filho com igualdade ao
Pai, achava que precisava salvaguardá-lo de qualquer mácula de criatura na
encarnação. Referia-se à encarnação como o emprego pelo Logos de um corpo
humano. Em “Da encarnação do Verbo”, disse que mesmo na vida terrestre, o Logos
não estava preso ao corpo, mas que fazia uso dele, de modo que não somente
estava nele, como estava em todas as coisas e, embora fosse externo ao
universo, permanecia somente no seu Pai.
Cristológicos heréticos
posteriores apelariam a essa exata questão e a igreja teria que deixar
despercebido o fato de que o venerável bispo de Alexandria parecia desvincular
a divindade de Cristo da sua humanidade. Felizmente, a discussão nesse ponto não
cessa por aí.
“E o Verbo se fez
carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do
Pai, cheio de graça e de verdade. João testificou dele, e clamou, dizendo: Este
era aquele de quem eu dizia: o que vem após mim é antes de mim, porque foi
primeiro do que eu. E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por
graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus
Cristo. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do
Pai, esse o revelou” (Jo 1:14-18).
Que o Senhor nos abençoe e nos
guarde.
Monteiro
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