HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 38



Atanásio Sustenta Irredutivelmente a Fé
Quando Alexandre, bispo de Alexandria, foi ao Concílio de Nicéia defender a causa trinitária contra o arianismo, levou o jovem assistente Atanásio. Este estava sendo preparado por Alexandre para ser seu herdeiro na liderança da Sé de Alexandria, o que aconteceu em 328, após a morte de Alexandre. Os críticos desprezavam sua juventude e duvidavam que o “anão negro”, como era conhecido, daria conta de ser patriarca da igreja. Mas pouco depois, até mesmo seus inimigos tiveram que admirar sua grande perspicácia, sabedoria e coragem.

Atanásio atuou como arcebispo e patriarca de Alexandria durante quarenta e cinco anos. Passou um terço desse período em exílio, por causa da defesa resoluta da terminologia essencial do Credo de Nicéia diante da oposição imperial.

O “santo da teimosia”, outro apelido devido sua oposição resoluta a qualquer coisa que tivesse o menor sinal de arianismo mesmo quando imperadores ameaçaram sua vida, como Orígenes, deixou um legado perturbador. Entretanto, sua reputação é tida como imaculada em todos os ramos principais da cristandade. Embora algumas de suas ideias tenham sido consideradas heréticas segundo os padrões da ortodoxia, ele nunca foi condenado, tampouco duramente criticado.

Atanásio é considerado um santo pelas igrejas ortodoxas orientais, bem como pela tradição católica romana. Os protestantes o consideram um dos grandes mestres da igreja primitiva. Muitos bispos e imperadores consideravam-no um controversista inflexível que se recusava a ceder teologicamente em prol da unidade eclesiástica. Segundo consta, ele provocou um grau de oposição incomum, parecia deleitar-se na controvérsia e tendia a ser tirano, todavia, a exemplo de Cristo, limpou o templo, não com chicotes, mas com argumentos persuasivos.

Ao assumir o trono, os sucessivos imperadores variavam seus pensamentos. Juliano converteu-se do cristianismo para o paganismo e procurou sem sucesso levar o império de volta às suas raízes pagãs. Atanásio considerava que Juliano era uma ameaça menor que os imperadores que falavam, sem conhecimento de causa, a respeito da doutrina da Trindade e tentavam estabelecer um compromisso com os arianos. Entre os anos 325 e 332, Constantino, por exemplo, sob a pressão de bispos e conselheiros que secretamente simpatizavam com Ário e dos bispos que o apoiaram e foram depostos e exilados, começou a mudar de partido.

A força da animosidade que se seguiu ao concílio foi intensa. As discussões e o tumulto não tinham cessado. Alguns dos que assinaram o credo e os anátemas contra os arianos ficaram horrorizados com a interpretação sabeliana distorcida aplicada ao credo. Conseguiram conquistar a confiança do imperador e este começou paulatinamente a pensar em mudar o credo e até mesmo a restaurar Ário e os bispos de Nicomédia e Nicéia.

Em 332, Constantino declarou Ário restaurado como presbítero em Alexandria e ordenou que o novo bispo o aceitasse de volta à comunhão da igreja. Atanásio rejeitou-o e desconsiderou as exortações e ameaças do imperador, exigindo, sem êxito, que Ário afirmasse homoousios  como descrição do relacionamento entre o Pai e o Filho. Como resultado Constantino exilou Atanásio para o posto mais afastado do Império Romano no Ocidente: a cidade alemã de Tréveris.

Seu exílio começou em novembro de 335 e durou até a morte de Constantino em 337. Todavia, mesmo no exílio, Atanásio permaneceu como o único bispo reconhecido de Alexandria. Os bispos do Egito, os presbíteros e o povo de Alexandria recusaram-se a substituí-lo.

Ário morreu na véspera do dia em que seria restaurado como presbítero numa cerimônia em Constantinopla. Sua morte em 336 ocorreu pouco menos antes da morte de Constantino. O sucessor de Constantino foi seu filho Constâncio que permitiu que Atanásio retornasse à sua sé. Mas sua restauração não seria permanente, pois o seu relacionamento com Constâncio era tempestuoso.

O novo imperador queria paz e a uniformidade era o caminho para ela. Chegou a achar que o termo homoousios, ironicamente, sugerido e imposto por seu pai, deveria ser substituído no Credo de Nicéia por homoiousios, que significa “de substancia semelhante” e era aceitável pelos semi-arianos e até mesmo por muitos trinitários.

Atanásio resistiu com teimosia à mudança e até mesmo a condenou como heresia e equiparou com o anticristo os que a apoiavam. Sua preocupação não era simplesmente defender uma linguagem sacrossanta, mas defender o próprio evangelho. Para Atanásio e seus partidários, a própria salvação depende de o Filho de Deus ser o próprio Deus e não meramente uma grandiosa criatura “semelhante a Deus”.

Por mais que repudiasse o sabelianismo, Atanásio repudiava ainda mais o subordinacionismo ariano, bem como o “meio termo” semi-ariano (que não necessariamente explicitava que “tempo houve em que o Filho não existia”), que lhe era inaceitável porque o evangelho inteiro dependia de Jesus Cristo ser verdadeiro Deus bem como verdadeiro homem.

“O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” (Hb 1:3).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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