O Credo de Nicéia
A ideia de escrever um credo que resumisse “a fé antiga da igreja”
em poucas palavras foi surgindo e ganhando popularidade. Os arianos eram a
favor da linguagem bíblica, mas Alexandre e seu assistente Atanásio perceberam
que isso não passava de ardil, pois os arianos eram hábeis adulteradores da
Palavra. Como não havia consenso, Constantino, talvez assessorado por Ósio ou
pelo bispo Eusébio de Cesárea, propôs que se incluísse a afirmação de que o
Filho é consubstancial com o Pai (homoousios).
A palavra composta “homoousios”, produto de duas palavras gregas
que significam “uma” e “substância”, usada para descrever o relacionamento
entre o Filho e o Pai, foi aceita pela maioria dos bispos. Os arianos ficaram
horrorizados, alguns não-arianos ficaram perplexos e preocupados, e os
trinitários, anti-arianos, Alexandre, Atanásio e seus amigos, ficaram
jubilosos.
Os arianos argumentaram que a palavra grega “ousia” podia
significar “uma coisa subsistente, individual”, que o Pai e o Filho poderiam
ser interpretados como idênticos em todos os sentidos, inclusive, serem a mesma
pessoa em disfarces diferentes. O significado mais comum de ousia, no entanto,
era “substância” ou “existência”. Afirmar que o Pai e o Filho são homoousios
significa dizer que todos compartilham dos mesmos atributos essenciais da
deidade.
Finalmente, Constantino nomeou uma comissão de bispos para redigir
o texto do credo. O resultado foi o primeiro Credo de Nicéia, que não incluiu o
terceiro artigo, a respeito do Espírito Santo e da Igreja, o qual seria
acrescentado no segundo concílio ecumênico de Constantinopla, em 381. O Credo
de Nicéia seguiu o modelo do Credo dos apóstolos, mas seu texto deixava claro
que o arianismo era errado:
“Cremos em um só Deus Pai onipotente, criador de todas as coisas
visíveis e invisíveis; em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado de
seu Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz de luz,
Deus verdadeiro do verdadeiro Deus, gerado, não feito, consubstancial
[homoousios] com o Pai, por quem todas as coisas vieram a existir, tanto no céu
como na terra, que por nós homens e pela nossa salvação desceu e encarnou,
tornou-se humano, padeceu e ao terceiro dia ressuscitou e subiu ao céu e virá
para julgar os vivos e os mortos; e no Espírito Santo”.
A frase “gerado, não feito” é um exemplo da linguagem extrabíblica
que seria necessária para excluir o arianismo, segundo insistia Alexandre. Mas,
“gerado” é uma palavra bíblica a respeito do Filho de Deus, João a emprega com
frequência. As Escrituras afirmam que o Filho é divino, sendo esta, condição
necessária para a salvação. Os bispos reconheciam que estavam afirmando um
profundo mistério, mas o que não podiam era permitir uma heresia. No credo há
também a frase “consubstancial com o Pai”. “Consubstancial” é uma tradução de
homoousios.
Constantino deixou claro que Ário estava deposto e condenado como
herege, e devia ser exilado junto com os bispos que o apoiavam. Pela primeira
vez, um herege cristão foi condenado e castigado por um governante secular
simplesmente por crer e ensinar a doutrina errada.
Foi exigido que todos os bispos assinassem o novo credo, sob a
pena de serem exilados. Muitos assinaram com relutância. Apenas dois se
recusaram: Eusébio de Nicomédia e Teogno de Nicéia. Foi uma grande perda, pois
eram extremamente influentes e todos sabiam que, a não ser que assinassem o
credo, a questão não seria resolvida tão facilmente.
Quando o concílio se encerrou, o assunto ficou sem resolução. Além
disso, a porta ficava aberta para o sabelianismo. A condenação final e
definitiva do arianismo aconteceu no Concílio de Constantinopla em 381.
Nós, seres humanos, parece que gostamos de complicar as coisas e
criar mistérios onde não deveria existir. Tanta polêmica em cima de uma questão
que poderia ser facilmente interpretada se apenas Lêssemos Gn 1:26. E que dizer
de Mt 3:16-17?: “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe
abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre
ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo”. Como é difícil a concórdia.
Que o Senhor nos abençoe e nos
guarde.
Monteiro
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