HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 36



O Credo de Nicéia
A ideia de escrever um credo que resumisse “a fé antiga da igreja” em poucas palavras foi surgindo e ganhando popularidade. Os arianos eram a favor da linguagem bíblica, mas Alexandre e seu assistente Atanásio perceberam que isso não passava de ardil, pois os arianos eram hábeis adulteradores da Palavra. Como não havia consenso, Constantino, talvez assessorado por Ósio ou pelo bispo Eusébio de Cesárea, propôs que se incluísse a afirmação de que o Filho é consubstancial com o Pai (homoousios).

A palavra composta “homoousios”, produto de duas palavras gregas que significam “uma” e “substância”, usada para descrever o relacionamento entre o Filho e o Pai, foi aceita pela maioria dos bispos. Os arianos ficaram horrorizados, alguns não-arianos ficaram perplexos e preocupados, e os trinitários, anti-arianos, Alexandre, Atanásio e seus amigos, ficaram jubilosos.

Os arianos argumentaram que a palavra grega “ousia” podia significar “uma coisa subsistente, individual”, que o Pai e o Filho poderiam ser interpretados como idênticos em todos os sentidos, inclusive, serem a mesma pessoa em disfarces diferentes. O significado mais comum de ousia, no entanto, era “substância” ou “existência”. Afirmar que o Pai e o Filho são homoousios significa dizer que todos compartilham dos mesmos atributos essenciais da deidade.

Finalmente, Constantino nomeou uma comissão de bispos para redigir o texto do credo. O resultado foi o primeiro Credo de Nicéia, que não incluiu o terceiro artigo, a respeito do Espírito Santo e da Igreja, o qual seria acrescentado no segundo concílio ecumênico de Constantinopla, em 381. O Credo de Nicéia seguiu o modelo do Credo dos apóstolos, mas seu texto deixava claro que o arianismo era errado:

“Cremos em um só Deus Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado de seu Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro do verdadeiro Deus, gerado, não feito, consubstancial [homoousios] com o Pai, por quem todas as coisas vieram a existir, tanto no céu como na terra, que por nós homens e pela nossa salvação desceu e encarnou, tornou-se humano, padeceu e ao terceiro dia ressuscitou e subiu ao céu e virá para julgar os vivos e os mortos; e no Espírito Santo”.

A frase “gerado, não feito” é um exemplo da linguagem extrabíblica que seria necessária para excluir o arianismo, segundo insistia Alexandre. Mas, “gerado” é uma palavra bíblica a respeito do Filho de Deus, João a emprega com frequência. As Escrituras afirmam que o Filho é divino, sendo esta, condição necessária para a salvação. Os bispos reconheciam que estavam afirmando um profundo mistério, mas o que não podiam era permitir uma heresia. No credo há também a frase “consubstancial com o Pai”. “Consubstancial” é uma tradução de homoousios.

Constantino deixou claro que Ário estava deposto e condenado como herege, e devia ser exilado junto com os bispos que o apoiavam. Pela primeira vez, um herege cristão foi condenado e castigado por um governante secular simplesmente por crer e ensinar a doutrina errada.

Foi exigido que todos os bispos assinassem o novo credo, sob a pena de serem exilados. Muitos assinaram com relutância. Apenas dois se recusaram: Eusébio de Nicomédia e Teogno de Nicéia. Foi uma grande perda, pois eram extremamente influentes e todos sabiam que, a não ser que assinassem o credo, a questão não seria resolvida tão facilmente.

Quando o concílio se encerrou, o assunto ficou sem resolução. Além disso, a porta ficava aberta para o sabelianismo. A condenação final e definitiva do arianismo aconteceu no Concílio de Constantinopla em 381.

Nós, seres humanos, parece que gostamos de complicar as coisas e criar mistérios onde não deveria existir. Tanta polêmica em cima de uma questão que poderia ser facilmente interpretada se apenas Lêssemos Gn 1:26. E que dizer de Mt 3:16-17?: “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Como é difícil a concórdia.

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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