HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 35




O Concílio de Nicéia – 325 D.C

Um dos locais prediletos de residência e de governo do imperador Constantino era Nicéia. Roma ficou praticamente abandonada pela corte imperial na época de Constantino.

Para entendermos a relevância desse concílio é preciso relembrar a situação em que a igreja cristã se encontrava pouco antes de 325. Bispos e outros líderes cristãos foram perseguidos e, por vezes, executados pelas autoridades romanas. Os templos das igrejas foram confiscados e transformados em templos pagãos. A igreja cristã era considerada seita e ameaça ao império, por estar cheia de subversivos que se recusavam a render culto ao imperador. De repente, tudo mudou. Agora um dos mais fortes imperadores romanos ordenava que todos os bispos cristãos comparecessem para deliberar em uma reunião.

A maioria dos cristãos não percebeu a ameaça inerente da prepotência imperial no lugar da perseguição. As condições impróprias para a viagem e as dificuldades com o idioma impediram o comparecimento de muitos bispos do ocidente, mas a maioria do oriente compareceu. Mesmo assim, os ramos oriental e ocidental do cristianismo (Ortodoxo e Católico) reconheceram o Concílio de Nicéia como o primeiro concílio ecumênico da igreja.

Estiveram presentes na cerimônia de abertura 318 bispos. O biógrafo de Constantino, o bispo Eusébio de Cesaréia, fez um relato do concílio, mas as atas propriamente ditas e os relatórios testemunhais detalhados não se encontram à disposição. Ao que parece, Constantino sentou-se num trono que ficava acima da sala de reuniões onde os bispos ficaram. O imperador tinha ao seu lado Ósio, que servia de mediador e mensageiro entre o imperador e os demais participantes. Alguns bispos tentaram levantar objeções contra essa conduta imperial, mas o imperador e seus guardas os silenciaram. Constantino deixou claro que pretendia agir como o “bispo dos bispos” e guiar as deliberações até suas conclusões.

O Concílio durou dois meses. Aproximadamente vinte “cânones” ou decretos distintos foram promulgados a respeito de assuntos que variavam desde a deposição de bispos relapsos até à ordenação de eunucos. Estes poderiam ser ordenados sacerdotes se a castração não fosse voluntária. O bispo de Alexandria foi declarado “patriarca” dos bispos das regiões da África do Norte e arredores e o bispo de Roma, o legítimo líder emérito dos bispos do Ocidente. Nesse concílio houve a oportunidade de esclarecer muitas dúvidas, inclusive, a fixação da data da páscoa e a situação de bispos que se mudavam de sé.

Entre os bispos presentes, apenas 28 eram declaradamente arianos desde o início. O Presbítero Ário foi representado por Eusébio de Nicomédia e Teogno de Nicéia. Alexandre de Alexandria dirigiu o processo jurídico contra Ário e o arianismo, sendo auxiliado por seu jovem assistente Atanásio, o qual viria a sucedê-lo no bispado de Alexandria poucos anos depois.

Talvez a maioria dos bispos pouco entendesse das questões envolvidas na controvérsia. O modalismo nunca fora oficialmente condenado e ainda pairava como uma grande ameaça à doutrina ortodoxa a respeito da Trindade, por reduzir a Trindade a três modos ou aspectos de Deus e sugerir o patripassianismo (a ideia de que o Pai sofreu na cruz). Para a maioria dos bispos, essa crença popular era uma heresia viva entre o povo e precisava de uma correção enérgica e cuidadosa. Se o subordinacionismo ariano era um antídoto útil contra o veneno do modalismo, então os bispos hesitariam em condená-lo. Condenariam o adocionismo, mas o subordinacionismo sutil seria mais difícil. Assim, os arianos acreditavam que tinham boas possibilidades de convencer a maioria e, quem sabe, até mesmo o imperador.

Entretanto, logo após a abertura do sínodo, alguém solicitou a leitura da posição ariana para que todos pudessem saber exatamente o que seria debatido. Nesse momento, os arianos cometeram um grave erro estratégico, o bispo Eusébio de Nicomédia levantou-se diante do concílio e leu uma negação clara e direta da divindade do Filho, enfatizando que Ele era uma criatura e de nenhum modo igual ao Pai. Antes que Eusébio terminasse a leitura, alguns bispos já tapavam os ouvidos e gritavam para que alguém pusesse fim às blasfêmias. Um bispo que estava perto de Eusébio deu um passo à frente, arrancou-lhe o manuscrito das mãos, jogou-o no chão e pisoteou-o. Houve comoção entre os bispos que só foi interrompida por ordem do imperador.

Como é sabido por quem crê nas providências divinas, nada acontece por acaso. A Igreja de Cristo não é comandada por homens, quando estes pensam que estão no controle, Deus toma seus cajados e passa para pessoas que cumpram a Sua vontade. É evidente que o Senhor permite que heresias e blasfêmias sejam cometidas, todavia, nada escapa o Seu controle e, no momento exato, quem costuma agir fora da direção de Deus tomará o seu devido rumo. Todos nós estamos atentamente observando o que está novamente ocorrendo com as igrejas cristãs, os homens estão se deixando enganar pela astúcia de Satanás, esquecem que o diabo tem muita experiência na tentativa de acabar com a igreja de Jesus Cristo, e mesmo sabendo que jamais prevalecerá contra ela, ele continua tentando desmoralizá-la; estamos esquecendo também sobre a narrativa da história da teologia, e continuamos, equivocadamente, desconsiderando a Palavra, a Sabedoria e o Poder de Deus.

Aos que já se curvaram perante Mamom ou diante de outros ídolos que este mundo oferece, gostaríamos de dizer que ainda há tempo para retornar ao verdadeiro Caminho, não esqueça que o amoroso (mas justo) Pai sempre reserva intocáveis os Seus eleitos. E aos que mantêm fidelidade a Deus, alertamos para que não dobre seus joelhos perante ídolo algum, mas que permaneçam como remanescentes. “Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal. Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça” (Rm 11:2-5).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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