HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 34



A Resposta de Alexandre ao Arianismo

Alexandre respondeu às provocações de Ário com uma obra enviada aos bispos e líderes eclesiásticos: “Deposição de Ário”. Foi uma tentativa de explicar a condenação e deposição de Ário em Alexandria. Alexandre resume a heresia de Ário e dos arianos a respeito de Deus e do Filho e pede que seus colegas não acolham os hereges, nem aceitem o pedido do bispo Eusébio para tratá-los bem: “... Para não nos tornarmos participantes dos pecados deles”.

Embora seja um resumo singelo dos ensinos de Ário, sua forma contém um argumento polêmico e sutil, pois uma das acusações de Ário contra a crença na igualdade do Filho e do Pai era que ela subverte a imutabilidade de Deus. Se o Filho de Deus é verdadeiramente Deus, logo, Deus não pode ser imutável, conforme todos creem que Ele é, porque o Filho passou por mudanças ao entrar na história e sofrer na carne de Jesus Cristo, dizia Ário.

Todavia, Alexandre virou o jogo contra Ário e o acusou de negar a imutabilidade do Pai ao declarar que Ele nem sempre foi Pai, mas somente se tornou Pai com a criação de um Filho. Esse argumento tornou-se uma das principais armas dos bispos ortodoxos contra o arianismo em todas as suas formas: se o arianismo está certo, o Pai nem sempre teria sido Pai, mas passado a sê-lo ao gerar o Verbo e isso contradiz a imutabilidade de Deus.

Alexandre acrescentou à sua declaração uma exegese bastante detalhada de João 1, em que o Verbo (Logos) estava “com Deus no princípio” e foi o agente de Deus em toda a criação. Mencionou ainda outras passagens apostólicas que referem a igualdade do Filho e do Pai, mas curiosamente ele esqueceu de mencionar a importante afirmação de João 1.1 : “o Verbo era Deus”.

Alexandre encerra sua carta mencionando que Ário e seus ensinos já haviam sido condenados por um sínodo com mais de cem bispos. Alexandre, seus presbíteros e outros reagiram com tamanha veemência contra os ensinos de Ário por perceberem que tal doutrina em si ameaçava a salvação.

O imperador Constantino ficou sabendo da controvérsia por intermédio de seu capelão pessoal, o bispo Ósio. Um cisma formal ameaçava dividir a igreja e poucos, ou talvez ninguém, queria isso, e Constantino seria o último a desejar tal coisa, pois tinha a esperança de que o cristianismo pudesse ser o “elo” religioso extremamente necessário que manteria firme o seu império instável.

Portanto, não agradou ao imperador saber que os líderes cristãos estavam envolvidos em uma disputa aparentemente exotérica sobre a metafísica divina, então tomou uma atitude extrema ao ordenar que todos os bispos cristãos de todas as partes do império comparecessem a uma reunião convocada para dirimir essa disputa doutrinária e decidir exatamente o que os cristãos deveriam crer para serem considerados cristãos autênticos.

A posição de Jesus Cristo em relação a Deus sempre foi uma certeza entre os líderes e pensadores cristãos. Jesus Cristo é Deus e é exatamente isso que distingue o cristianismo das outras religiões monoteísticas, como o judaísmo, e das filosofias monoteísticas, como o platonismo e o estoicismo.

Alexandre ficou extremamente chocado ao descobrir que um presbítero e mestre cristão de destaque, bem em sua vista, negava qualquer identidade ontológica entre o Pai e o Filho. Tal conceito já havia sido rejeitado pelo sínodo de Antioquia e condenando Paulo de Samosata e seus ensinos. Mas o arianismo era uma forma mais sutil de negar a divindade de Jesus.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam” (João 1:1-5).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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