Alexandre respondeu às provocações de Ário com uma obra enviada
aos bispos e líderes eclesiásticos: “Deposição de Ário”. Foi uma tentativa de
explicar a condenação e deposição de Ário em Alexandria. Alexandre resume a
heresia de Ário e dos arianos a respeito de Deus e do Filho e pede que seus
colegas não acolham os hereges, nem aceitem o pedido do bispo Eusébio para
tratá-los bem: “... Para não nos tornarmos participantes dos pecados deles”.
Embora seja um resumo singelo dos ensinos de Ário, sua forma
contém um argumento polêmico e sutil, pois uma das acusações de Ário contra a
crença na igualdade do Filho e do Pai era que ela subverte a imutabilidade de
Deus. Se o Filho de Deus é verdadeiramente Deus, logo, Deus não pode ser
imutável, conforme todos creem que Ele é, porque o Filho passou por mudanças ao
entrar na história e sofrer na carne de Jesus Cristo, dizia Ário.
Todavia, Alexandre virou o jogo contra Ário e o acusou de negar a
imutabilidade do Pai ao declarar que Ele nem sempre foi Pai, mas somente se
tornou Pai com a criação de um Filho. Esse argumento tornou-se uma das
principais armas dos bispos ortodoxos contra o arianismo em todas as suas
formas: se o arianismo está certo, o Pai nem sempre teria sido Pai, mas passado
a sê-lo ao gerar o Verbo e isso contradiz a imutabilidade de Deus.
Alexandre acrescentou à sua declaração uma exegese bastante
detalhada de João 1, em que o Verbo (Logos) estava “com Deus no princípio” e
foi o agente de Deus em toda a criação. Mencionou ainda outras passagens
apostólicas que referem a igualdade do Filho e do Pai, mas curiosamente ele
esqueceu de mencionar a importante afirmação de João 1.1 : “o Verbo era Deus”.
Alexandre encerra sua carta mencionando que Ário e seus ensinos já
haviam sido condenados por um sínodo com mais de cem bispos. Alexandre, seus
presbíteros e outros reagiram com tamanha veemência contra os ensinos de Ário
por perceberem que tal doutrina em si ameaçava a salvação.
O imperador Constantino ficou sabendo da controvérsia por
intermédio de seu capelão pessoal, o bispo Ósio. Um cisma formal ameaçava
dividir a igreja e poucos, ou talvez ninguém, queria isso, e Constantino seria
o último a desejar tal coisa, pois tinha a esperança de que o cristianismo
pudesse ser o “elo” religioso extremamente necessário que manteria firme o seu
império instável.
Portanto, não agradou ao imperador saber que os líderes cristãos
estavam envolvidos em uma disputa aparentemente exotérica sobre a metafísica
divina, então tomou uma atitude extrema ao ordenar que todos os bispos cristãos
de todas as partes do império comparecessem a uma reunião convocada para
dirimir essa disputa doutrinária e decidir exatamente o que os cristãos
deveriam crer para serem considerados cristãos autênticos.
A posição de Jesus Cristo em relação a Deus sempre foi uma certeza
entre os líderes e pensadores cristãos. Jesus Cristo é Deus e é exatamente isso
que distingue o cristianismo das outras religiões monoteísticas, como o
judaísmo, e das filosofias monoteísticas, como o platonismo e o estoicismo.
Alexandre ficou extremamente chocado ao descobrir que um
presbítero e mestre cristão de destaque, bem em sua vista, negava qualquer
identidade ontológica entre o Pai e o Filho. Tal conceito já havia sido
rejeitado pelo sínodo de Antioquia e condenando Paulo de Samosata e seus
ensinos. Mas o arianismo era uma forma mais sutil de negar a divindade de
Jesus.
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo
era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por
ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a
luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”
(João 1:1-5).
Que o Senhor nos abençoe e nos
guarde.
Monteiro
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