HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 33



O Arianismo

O Arianismo sustentava que a nossa salvação estaria em jogo se a opinião de Alexandre prevalecesse. Jesus Cristo não poderia ter sido realmente humano, posto que a humanidade e a divindade são coisas diferentes por natureza. Se assim fosse, Seu ato de salvação não seria uma vitória genuína da qual podíamos participar. O Arianismo sustenta ainda que salvação significava seguir espontaneamente o exemplo de Cristo de submissão a Deus. Se Cristo não optou, de modo humano, por seguir a vontade de Deus, seu exemplo não tem utilidade.

A diferença entre as crenças de Ário e de Alexandre a respeito da natureza de Jesus Cristo e do Logos que nEle encarnou, relaciona-se com a doutrina da salvação. Alexandre adotava o conceito ortodoxo da salvação que existia desde Irineu, e Ário, um conceito que enfatizava a conformidade voluntária com os padrões morais de Deus.

Os bispos reunidos no sínodo em Alexandria em 318 condenaram Ário e seus ensinos como heréticos e o depuseram do presbitério. Ário, porém, não considerou o assunto por encerrado e encontrou amparo em seu antigo amigo Eusébio de Nicomédia, que a essa altura já era um bispo importante. Ário e Eusébio começaram, em Nicomédia, uma campanha de escrever cartas aos bispos que não compareceram ao sínodo de Alexandria.

Uma das declarações típicas de Ário a respeito do relacionamento entre o Filho e o Pai é: “Cristo não é o verbo de Deus, mas por participação [...] o filho não conhece o Pai com exatidão e o Logos não vê o Pai com perfeição, e ele não percebe o Pai com exatidão e nem o Logos o compreende; isso porque ele não é o verdadeiro e único Logos do Pai, mas somente em nome ele é chamado Logos e Sabedoria, e pela graça é chamado filho e poder”.

Ário também explorava a palavra apostólica “gennetos” (gerado), usada para descrever Jesus Cristo como Filho de Deus. Se, portanto, o Filho de Deus que veio a ser Jesus Cristo foi gerado, deve ter tido um início no tempo e, uma vez que é da essência de Deus ser eterno o Filho de Deus deve, portanto, ser uma criatura grandiosa, mas não o próprio Deus. Foi essa distinção que Ário enfatizou na sua profissão de fé escrita em 320 no exílio, sob a proteção e patrocínio de Eusébio.

A carta foi assinada por dois bispos, seis sacerdotes e seis diáconos e enviada a Alexandre, bem como a vários outros oponentes destacados de Ário. Nela, Ário escreveu:

“Reconhecemos um só Deus, sendo somente ele não gerado, somente ele eterno, somente ele sem princípio, somente ele verdadeiro, somente ele imortal, somente ele sábio, somente ele bom, somente ele cheio de poder; é ele quem julga todos, quem controla todas as coisas, quem provê todas as coisas; e ele não está sujeito a nenhuma mudança ou alteração; ele é justo e bom; ele é o Deus da Lei e dos Profetas e da Nova Aliança. Esse único Deus, antes de todo o tempo, gerou seu Filho unigênito, por meio de quem fez as eras e o universo. Ele gerou não apenas na aparência, mas de fato; por vontade própria fez subsistir seu Filho e o fez imutável. Sendo a criatura perfeita de Deus, ele é diferente de qualquer outra criatura; gerado, sim, mas incomparável no modo de ser gerado. [...] mas dizemos que foi criado pela vontade de Deus, antes de todas as eras; do Pai recebeu existência e vida e, ao criá-lo, o Pai conferiu-lhe a própria glória. O Pai, porém, ao entregar todas as coisas em seu poder, não se despojou delas: o Pai contém todas as coisas em si mesmo de modo não gerado, pois ele é a fonte de todas as coisas. Existem, portanto, três substâncias (hipóstases)”.

Por isso, Ário e seus colegas arianos afirmaram um tipo de Trindade composta de três seres “divinos” (o Pai, o Filho e o Espírito Santo), sendo que somente um deles é verdadeiramente Deus. Deus, pela própria natureza, é isento das características da criatura e, se o Logos se humanizou em Jesus Cristo, ele é necessariamente uma criatura. A salvação é um processo de união com Deus mediante a graça e o livre arbítrio e, se Jesus nos comunica a salvação, isso é necessariamente algo que ele realizou mediante a graça o livre arbítrio, de modo que pudéssemos seguir seu exemplo. Se Jesus fosse Deus, a salvação não seria algo que ele poderia levar a cabo. Ário e seus seguidores separavam cada vez mais a relação entre Deus Pai e Jesus Cristo, de modo que, pra muitos dos seus oponentes, pareceu que negavam qualquer sentido real da divindade de Cristo e rejeitavam totalmente a Trindade.

Lógico que Alexandre dará uma resposta muito mais contundente. Todavia, contra essa ideia falha, é possível argumentar que Ário não considerava que o Filho foi gerado na eternidade, pois Deus não está sujeito ao tempo, Ele vive na eternidade. O tempo só surgiu com a criação do mundo. Na verdade, o tempo foi feito para o homem. “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado (Mc 2:27)”. Ário não considera ainda que o primeiro Adão também foi feito perfeito e tinha comunhão perfeita com o Pai, nem por isso deixou de pecar. Mas, o segundo Adão, “um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado (Hb 4:15b)”.

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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