A Igreja e o Imperador Constantino
A história da Teologia cristã sofreu muitas reviravoltas
surpreendentes durante o século IV. Talvez o evento mais surpreendente e
influente tenha sido a “conversão” do Império Romano ao Cristianismo. A
história da teologia no século IV é inseparável da história do Império Romano.
Bem ou mal, permaneceram inexplicavelmente ligadas por pelo menos mil anos.
Por volta de 301, a perseguição dos cristãos que começara com o
imperador Décio, em meados do século III, e que continuou com Diocleciano,
começou a diminuir. O cristianismo sobreviveu às perseguições e execuções em
massa e conseguiu edificar templos, desenvolver uma eclesiologia hierárquica e
consolidar suas crenças. Estima-se que girava em torno de 5% o número de
cidadãos e súditos do Império Romano naqueles tempos. Mesmo assim, um imperador
após o outro tentou erradicar a religião cristã, principalmente da casa
imperial, dos tribunais, do exército e das burocracias.
Em outubro de 312, Constantino, atacou Roma para depor Maxêncio,
um homem que alegava ser o imperador. Constantino foi o general comandante das
legiões romanas na Bretânea e na Europa ao norte dos Alpes durante vários anos
e acreditava ter mais direito de ser imperador do que qualquer um dos seus
rivais. Segundo seu biógrafo, Eusébio, Constantino fez um apelo a qualquer deus
que pudesse ajudá-lo a derrotar seu rival e teve a visão de um símbolo cristão
com as palavras “sob este símbolo vencerás”. Entrou na batalha no dia seguinte
com o símbolo de Cristo exibido em suas bandeiras e escudos de guerra e seu
inimigo Maxêncio foi afogado no rio Pó. Eusébio comparou Maxêncio com Faraó e
Constantino com Moisés e declarou que a vitória foi uma intervenção divina.
Depois de se tornar imperador, Constantino promulgou o “Édito de
Milão”, declarando tolerância ao cristianismo. A partir de então (313),
promulgou vários éditos restituindo os bens dos cristãos, mas nunca chegou a
fazer do cristianismo a religião oficial. Foi sumo sacerdote da religião pagã
oficial do império até ser batizado, pouco antes de sua morte, em 337.
Seu relacionamento com os líderes cristãos foi tempestuoso. Chegou
a declarar-se “bispo de todos os bispos” e o “décimo terceiro apóstolo”, embora
fosse pagão e recusasse o batismo. Parece que a unificação da igreja era uma de
suas obsessões, e o domínio da liderança eclesiástica seria o meio de atingir
esse objetivo. As igrejas cristãs estavam seriamente divididas na ocasião de
sua ascensão, apoiando tanto as heresias como a ortodoxia, queria usar o
cristianismo para reunificar o Império Romano, para tanto, precisava extirpar
os cismas. Morreu sem resolver totalmente esse assunto.
O cisma que causou maior divisão que até então a igreja havia conhecido,
a “controvérsia ariana”, ocorreu nessa época. Começou em Alexandria e se
propagou por todo o império, causando maior impacto na metade de língua grega.
Constantino e seus herdeiros envolveram-se nessa controvérsia e tomaram
partidos em ocasiões diferentes.
A perseguição oficial dissipou-se e, ser cristão, pelo menos de
nome, passou a ser popular e prudente. Então, hordas de pagãos não convertidos
entraram como uma inundação para as igrejas cristãs simplesmente para ganhar
posição aos olhos da corte imperial e da burocracia dirigida por Constantino.
Um dos principais empreendimentos de Constantino foi edificar a
mais bela cidade e colocar seu enorme palácio e catedral no centro dela. Saiu
de Roma e edificou a “Nova Roma” no Oriente, escolheu Bizâncio, hoje Istambul,
na Turquia, e deu-lhe um novo nome em sua própria homenagem: Constantinopla.
Constantino convocou e presidiu o primeiro concílio ecumênico da
igreja, a fim de dirimir conflitos doutrinários e eclesiásticos: o Concílio de
Nicéia em 325 (Credo Niceno ou Nicenoconstantinopolitano). A doutrina formal e
oficial ortodoxa da Trindade foi elaborada em meio a fortes críticas, e
expressa nesse credo, mas sua versão definitiva foi escrita mais tarde, no
Concílio de Constantinopla em 381. Acabou se tornando a declaração universal da
fé da cristandade e assim permanece para a maior parte dos ramos do
cristianismo.
É notório que o desejo humano em tirar vantagens pessoais em nome
de Cristo não é novidade, assim como sofrer perseguições por amor a Cristo não o
é. Parece que o Cristianismo só é purificado quando há sofrimento. Com Israel, no
Antigo Testamento, acontecia algo que podemos fazer algumas comparações: o povo
se voltava para Deus, era abençoado e próspero, depois voltava às práticas
idólatras, era repreendido e massacrado, chegando ao fundo do poço, então
voltava a clamar por Iavé, e o ciclo se repetia sucessivamente.
No Novo testamento a igreja nasceu e cresceu em meio às ameaças e
perseguições. A grande vantagem dos cristãos em relação ao povo da antiga
aliança é que, nesta era, Deus tem colocado Seu Espírito sobre toda a carne, e
é este mesmo Espírito quem comanda a igreja de Cristo. As fases que o povo de
Israel vivia, vivemo-las, por vezes, todas num só dia, e quando a igreja se
encontra fraca, promíscua, desviada, e sem vida, Aquele que a dirige faz com
que aconteçam reformas e novos avivamentos. E podemos ter certeza que as portas
do inferno não prevalecerão contra a igreja de Cristo, e esta jamais terá a
totalidade de seus membros desviados, pois sempre haverá um remanescente fiel.
“O remanescente é que será salvo (Rm 9:27c)”.
Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
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