Tertuliano nasceu por volta de 150, em Cartago, e
provavelmente passou toda a sua vida ali, embora tenha visitado Roma com
frequência. Alguns estudiosos acreditam que morasse em Roma durante algum
tempo. Por profissão era advogado. Quando se converteu ao cristianismo, por
volta de 190, dedicou seus conhecimentos e habilidades jurídicas ao
esclarecimento e defesa da fé cristã ortodoxa. Nunca foi ordenado ao
sacerdócio, nem chegou a ser canonizado pela igreja católica e ortodoxa, a qual
abandonou por volta de 207, poucos anos antes da sua morte ocorrida por volta
de 212.
A tradição diz que se afilou à igreja montanista da “Nova
Profecia” em Cartago devido à insatisfação com o declínio da forte igreja e a
decadência moral e teológica.
Embora não rejeitasse a ideia, extremamente crucial para o
empreendimento de Clemente, de que toda a verdade era a verdade de Deus,
encontrou poucas verdades úteis ao cristianismo, exceto a revelação bíblica que
Deus deu a Israel e aos apóstolos que considerava inspirada e incomparável.
Embora os termos “liberal” e “conservador” descrevam os tipos
modernos e não antigos de teologia, talvez não seja completamente inadequado
dizer que Tertuliano é o protótipo do pensador cristão conservador, ou até
mesmo fundamentalista, enquanto que Clemente é o protótipo liberal. Ambos
concordariam que toda a verdade é a verdade de Deus, onde quer que se encontre,
mas Tertuliano era pessimista a respeito da capacidade da mente humana de
evitar a idolatria e o sincretismo perigoso, e advertia os cristãos a se
guardarem do estudo demasiado da filosofia para não serem seduzidos pela
heresia.
O legado escrito de Tertuliano que ainda existe inclui cerca
de trinta obras. Na maioria, são tratados anti-heréticos que visam desmascarar
os erros de vários mestres cristãos de Roma. “Contra Marcião”, escrita em cinco
tomos, é sua obra maior que, em muitos aspectos, é a mais importante.
Outro objeto da ira anti-herética de Tertuliano foi o mestre
cristão romano Práxeas. A crítica maciça “Contra Práxeas” foi escrita depois de
Tertuliano ter passado para o montanismo, mas sua influência em todas as
igrejas cristãs ocidentais foi “imediata e permanente”.
Em certo sentido, Tertuliano foi o pai das doutrinas ortodoxa
da Trindade e pessoa de Jesus Cristo, embora tenha morrido fora da Grande
Igreja católica e ortodoxa.
Além de Contra Marcião e Contra Práxeas, Tertuliano também
escreveu uma apologia por volta de 200 e um tratado sistemático sobre a fé
cristã, chamado “Prescrição Contra os Hereges”, de datação incerta.
Tertuliano, às vezes, é considerado apologista por causa de
sua “Apologia” que é dirigida aos governantes do Império Romano. Contém
argumentos de linguagem extremamente jurídica contra os perseguidores dos cristãos
e em favor da inocência do cristianismo. Além de denunciar a injustiça do
tratamento dos oficiais romanos aos cristãos, a apologia também explica a vida,
adoração e crença cristãs de uma forma que, por vezes, vai muito além dos escritos
anteriores.
O Logos, conforme Tertuliano explicou cuidadosamente, é tanto
Deus como o rebento de Deus mediante o qual Ele se relaciona com a criação.
Esse Logos, obviamente, é Cristo. Usou a analogia do sol para explicar essa
relação. O raio de Deus profetizado nos tempo antigos desceu em determinada
virgem e fez-se carne em seu útero, e é por nascimento Deus e homem unidos em
um.
Tertuliano usou uma hipérbole para reforçar sua tese de que o
conhecimento mais importante é o que é consistente e que está em conformidade
com a mensagem apostólica. Mais controversa é sua observação a respeito da
crença cristã na encarnação e morte do Filho de Deus. Contradizendo as
tentativas de outros teólogos de explicá-la de modo especulativo e filosófico,
Tertuliano irrompeu com “Ela deve ser crida exatamente porque é absurda!” e “O
fato está correto porque é impossível”.
A despeito dessas explosões de fideísmo, Tertuliano não era
totalmente anti-intelectual e, sem dúvida, não acreditava nas coisas pela fé
cega, sem nenhuma consideração ou exame. Mas crê que existem coisas que são
simplesmente maravilhosas demais para ser compreendidas, como a crucificação ou
o poder do batismo. Mas não se trata de uma declaração genérica de que a fé
precisa se basear na impossibilidade racional. Na verdade, ele crê que a
especulação desenfreada pode conduzir para fora do caminho e que realmente
importa para o cristão é a verdadeira revelação de Deus.
A salvação apresentada por Tertuliano girava em torno da
ideia do batismo, que ele considerou um sacramento legítimo, embora não tenha
definido com detalhes a sua função. A visão que Tertuliano tinha da salvação
retomou o fio da meada que os pais apostólicos tinham deixado e estendeu a
influência do seu rigorismo moral para a África do Norte e para o cristianismo
latino centralizado em Roma.
O grande mérito de Tertuliano foi sua influência sobre
Cipriano, o bispo norte-africano mais influente do século III. Esse mérito deve
ser perseguido por todos os cristãos, os quais devem influenciar não só a
hierarquia eclesiástica, mas as demais autoridades. Aliás, o cristão deve
influenciar o mundo. “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade
edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do
alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça
a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5:14-16).
Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
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