O
Ataque de Ireneu ao Gnosticismo
O
ataque de Irineu ao gnosticismo não teve nada da abordagem fria e racional que
as pessoas da atualidade esperariam de um bispo ou teólogo. Ele considerava o
gnosticismo estulto e sinistro e queria desmascará-lo de uma vez por todas como
uma corrupção completa do evangelho disfarçado em “sabedoria superior para
pessoas espirituais”.
Ireneu
passou anos estudando pelo menos vinte mestres gnósticos distintos e suas
respectivas escolas. Descobriu que o mais influente era o “gnosticismo
valentiniano”, que mediante os ensinos de um líder gnóstico chamado Ptolomeu,
tornou-se popular entre os cristãos romanos. Por isso, concentrou sua atenção
em expor esse grupo como ridículo e falso. Dessa forma, todos os outros seriam esmagados.
A
abordagem de Ireneu na crítica ao gnosticismo em “Contra Heresias” foi tripla. Inicialmente,
procurou reduzir a cosmovisão gnóstica ao absurdo, ao demonstrar que boa parte
dela era uma mitologia, sem qualquer fundamento a não ser na imaginação. Essa
primeira estratégia pretendia desmascarar as contradições internas do gnosticismo
e sua incoerência básica, pois as verdades que pregava eram conflitantes entre
si.
Depois
tentou demonstrar que era falsa a reivindicação dos gnósticos de ter uma
autoridade que remontava a Jesus e aos apóstolos.
E
por último, entrou em debate com a interpretação gnóstica das Escrituras e
demonstrou que era irracional e até mesmo impossível.
Há
várias suposições que explicam a polêmica tentativa de Ireneu desmascarar o
gnosticismo. Obviamente, ele acreditava que exercia um papel e uma posição
especiais, por ter sido instruído no cristianismo por Policarpo que, por sua
vez, teve João como mestre.
Muitos
gnósticos alegavam que João fazia parte de um grupo seleto de discípulos de
Jesus que receberam do Salvador “ensinos secretos” não revelados à maioria dos
cristãos por não estarem espiritualmente aptos a entendê-los.
Embora
pudessem enxergar indícios da própria cosmovisão e evangelho nos escritos
apostólicos, tinham de confiar em uma tradição oral secreta como a fonte
principal de sua autoridade. Ireneu deduziu que, se tivessem existido tais
ensinos, Policarpo teria tomado conhecimento deles e lhe retransmitido. Por nenhum
bispo cristão reconhecer nem aceitar esses ensinos, as reivindicações gnósticas
foram derrotadas.
Outra
suposição básica que subjazia à crítica ao gnosticismo era a de que os
gnósticos seriam os responsáveis por romper a unidade da igreja. Eram eles os
cismáticos. Ireneu atribuía grande valor à unidade visível da igreja, que
consistia na comunhão dos bispos nomeados pelos apóstolos. Os gnósticos estavam
fora dela e agiam como parasitas. Para Ireneu e muitos dos seus leitores, esse
era um argumento forte contra eles.
Uma
dificuldade que frequentemente se acha na leitura de “Contra heresias” é o
enorme volume da descrição das crenças gnósticas feita por Ireneu. É fácil se
atrapalhar com ela e desistir da leitura. Por exemplo, Ireneu explicou o ensino
de Valentino a respeito da origem do mundo, substituindo os nomes de criação
valentiniana por nomes conhecidos, criticando assim, a criatividade mitológica
desse herético, que se atrevia a pronunciar palavras nunca antes conhecidas.
Se
o leitor moderno de Ireneu perseverar pelas muitas páginas de explicação dos
sistemas e terminologias gnósticas, sua recompensa será o prazer ocasional da
ironia e do sarcasmo que revelam um pouco da personalidade de Ireneu e de seu
repúdio à cosmovisão evidentemente absurda do gnosticismo.
Sabedoria
e conhecimento são necessários para se viver bem. Entretanto, não é o
conhecimento de todas as coisas que pode nos salvar, nem é o conhecimento de
supostas verdade que salva. Só existe uma Pessoa que pode nos salvar: Jesus
Cristo, o Filho de Deus. Ele é a própria Sabedoria em Pessoa. Todas as outras
verdades são relativas, mas Cristo é a Verdade absoluta. “Disse-lhe Jesus: Eu
sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”
(Jo 14:6).
Que
o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
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