HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ – Parte 55



Duas Variantes Cristológicas – “da Palavra-carne” X “da Palavra-homem”

Os modos alexandrinos e antioquenos de pensar a respeito das Escrituras e da salvação produziram formas extremamente diferentes de conceber a pessoa de Jesus Cristo. Para Atanásio a natureza humana de Cristo era passiva e impessoal, um veículo, pouco mais do que um invólucro. O modo típico de Atanásio e de outros alexandrinos falarem a respeito da encarnação e da união entre Deus e a humanidade em Cristo é chamado cristologia da Palavra-carne, isto é, o Logos de Deus assumiu a carne humana sem realmente entrar na existência humana em toda a sua plenitude. A humanidade de Jesus Cristo era a “carne”: corpo e alma. Apolinário colocou os retoques finais nessa cristologia ao negar que Jesus Cristo possuísse qualquer intelecto ou vontade humana ativos.

Os antioquenos ficaram horrorizados com a cristologia da Palavra-carne de Alexandria e a consideraram uma heresia tão grave quanto o já condenado adocionismo. Eustáquio de Antioquia, Diodoro de Tarso e Teodoro de Mopsuéstia enfatizavam a humanidade de Jesus Cristo e, acusando os alexandrinos de truncá-la, desenvolveram a cristologia da Palavra-homem, na qual a humanidade de Jesus Cristo era ativa, como uma pessoa integral e completa.

Em vez de enfatizarem a união entre o divino e o humano em Jesus Cristo, os antioquenos enfatizavam a distinção entre Suas duas naturezas. Com isso visavam tanto proteger a sobrenaturalidade santa da natureza divina do Logos contra tudo o pertencesse à natureza das criaturas, como enfatizar a integridade da natureza humana, que tinha a capacidade de obedecer a Deus ativamente, e não passivamente como mero instrumento. Diodoro chegou a falar em Jesus Cristo como “dois filhos”: o Filho de Deus e o Filho de Davi.

Os alexandrinos ficaram chocados com a cristologia de Diodoro, porque, para eles, era bastante semelhante ao adocionista. Parecia uma franca negação da união real e ontológica entre Deus e a raça humana em Jesus Cristo. Questionavam de que forma seríamos salvos se as naturezas humana e divina não se tornassem uma só em Cristo. Os antioquenos retrucavam: “se Cristo tinha uma só natureza e não duas como Ele poderia ser verdadeiramente divino e verdadeiramente humano, consubstancial com Deus e com a humanidade?”.

Segundo os antioquenos, a existência de Deus Pai é um assunto à parte, completamente diferente de qualquer ser criado, é eterna e não temporal. Imutável e não sujeita a alterações. O ser humano é uma forma de existência criada. Mesmo depois de redimido, não é divino. Compartilha da divindade ao se tornar imortal. A ferida mortal do pecado e da morte é curada, mas até mesmo os santos completamente redimidos no céu continuam sendo criaturas e não deuses. Portanto, como a humanidade e divindade poderiam se tornar uma só natureza? Isso não somente seria um mistério, mas também a negação das crenças cristãs fundamentais a respeito de Deus e da salvação.

Na base dessa divergência a respeito das cristologias DA PALAVRA-CARNE versus DA PALAVRA-HOMEM havia ideias diferentes a respeito da salvação. Segundo o conceito alexandrino, a salvação plena dependia de uma encarnação genuína, mas não de uma natureza plena e genuína exatamente como a nossa. Acima de tudo, não precisava ter seu centro independente de intelecto, de ação e de vontade. A humanidade de Jesus Cristo podia ser, e era, uma natureza humana impessoal.

Para os antioquenos, a salvação plena dependia de uma encarnação genuína, mas não de uma união íntima entre a humanidade e a divindade que ameaçaria a verdadeira distinção entre elas, e a encarnação verdadeira devia incluir uma natureza humana totalmente individual. Jesus Cristo tinha de ser um homem exatamente igual a qualquer outro homem, exatamente como Adão, porém, sem pecado.

Os alexandrinos, Apolinário e Cirilo, sustentam que a salvação do homem equivale à sua deificação, entendem que somente o próprio Deus pode salvar os pecadores e, consequentemente, enfatizam a confissão cristã de quem em Jesus Cristo o Logos divino uniu a natureza humana a si mesmo e se apropriou dela: Jesus Cristo, portanto, é uma só pessoa, o próprio Logos no seu estado encarnado.

Os antioquenos entendem que se é para o homem ser renovado no estado de obediência à vontade de Deus, que é envolvido na salvação, o Logos divino deve unir-se à humanidade que, embora tentado até o fim, vencerá onde o primeiro Adão fracassou.

“... Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos. E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos” (Rm 5:15-19).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

Um comentário:

  1. O pastor Antônio Dionízio pregou neste domingo sobre os conflitos interiores do homem que deve decidir entre fazer a vontade de Deus ou entregar-se ao seu próprio desejo.

    O pastor usou como referência a história do profeta Jonas que, tentando realizar suas aspirações pessoais, tentou fugir da direção de Deus e não prosperou, pois o Senhor o trouxe de volta de maneira espetacular - sendo vomitado de um peixe - e o conduziu a pregar onde tanto temia - a cidade de Nínive.

    O reverendo disse que a história de Jonas é uma das mais pregadas na evolução do Cristianismo de forma que Jonas é tido como medroso, covarde e rebelde por ter resistido à ordem de Deus. No entanto, segundo o pastor, às vezes somos parecidos com o profeta e tentamos fazer prevalecer nossa vontade sobre a vontade de Deus em nossas vidas.

    O Espírito Santo, que reside em nós, é nosso aliado na luta entre o nosso desejo e a vontade do Pai que está nos céus de forma a nos fortalecer espiritualmente e a vontade de Deus prevaleça em nossas vidas.

    Não adianta fugirmos da presença de Deus pois Ele não quer perder o que já investiu em nós e nos trará de volta e, de uma forma ou de outra, como no caso de Jonas, Sua vontade prevalecerá.

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