O Concílio de Constantinopla declarou em 381 que
a verdadeira ortodoxia cristã necessariamente inclui a crença de que Jesus
Cristo era e é verdadeiramente Deus tanto quanto verdadeiramente humano –
consubstancial com o Pai e com os seres humanos. Depois desse concílio,
esperava-se que todos os cristãos cressem em Deus e o professassem como um
único ser divino existente eternamente como três subsistências ou pessoas
distintas.
Embora vários tipos de arianos e sabelianos ainda
permaneceriam às margens da cristandade por muito tempo, a Grande Igreja
considerou a questão encerrada, quem ousasse questionar a dignidade e a glória
divina iguais das três pessoas como um único ser não teria a menor
possibilidade de se tornar um líder eclesiástico.
O ensino de Apolinário a respeito da encarnação
foi condenado, embora ele claramente acreditasse na Trindade e muitos cristãos
dentro da esfera de influência de Alexandria achassem injusta sua condenação.
Muitos em Antioquia ficaram tão horrorizados com o modo de ele explicar a
encarnação que começaram a investigar os teólogos alexandrinos para ver se
outros acreditavam e ensinavam de modo semelhante.
Os alexandrinos, por sua vez, começaram a vigiar
os teólogos antioquenos a fim de verificar se a antiga heresia do adocionismo
estava ressurgindo. Não demorou muito para que bispos e teólogos de Alexandria
e Antioquia começassem uma discussão teológica a respeito da natureza do
Deus-homem, Jesus Cristo, embora todos concordassem que se tratava de Deus
encarnado. A questão era como explicar a humanidade e a divindade de Cristo.
O problema nesse mistério era um pouco
semelhante ao problema no mistério da Trindade, sendo que os sabelianos, por
exemplo, alegavam crer na Trindade, mas expressavam essa crença por meio da
linguagem figurada do modalismo. Assim como aconteceu com os principais
defensores da doutrina da Trindade, os envolvidos na controvérsia cristológica
estavam preocupados em preservar o mistério da pessoa de Jesus Cristo e
evitavam explicações que o racionalizassem demais e o esclarecessem.
Os defensores da “união hipostática”, que se
tornou a doutrina ortodoxa da pessoa de Cristo no Concílio de Calcedônia em
451, eram a favor do mistério e não racionalistas que tentavam perscrutar
mistérios que deveriam ser deixados fora do nosso alcance para desvendá-los e
torná-los inteligíveis ao pensamento humano.
Todos entendiam que o que estava em jogo era a
própria salvação dos seres humanos. Se Jesus Cristo não era verdadeiramente
Deus e também verdadeiramente humano, como poderia nos salvar? Como alguém que
não fosse divino, e diferente dos seres humanos, poderia fechar o abismo entre
os dois lados e uni-los na reconciliação e na união salvífica?
O aspecto perturbador desse episódio não é a
agudeza. Podemos aprender a conviver com a ambiguidade e com a linguagem
abstrata. Difícil é aceitar que cristãos usassem a teologia como meio de
manobra no jogo de poder e influência, empregando meios antiéticos. Política e
teologia misturaram-se de uma forma nunca imaginada. Deus, porém, opera por
caminhos misteriosos e a maioria dos cristãos acredita que o resultado final da
controvérsia foi uma vitória da verdade, embora ela mantivesse certo mistério.
Três grandes concílios ecumênicos: o de
Constantinopla em 381, onde começou esse episódio; o de Éfeso em 431, o
terceiro concílio ecumênico, onde o episódio sofreu uma reviravolta; e o de
Calcedônia em 451, chegando à conclusão final.
“Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas
palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de
julgar no último dia. Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que
me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de
falar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo,
falo-o como o Pai mo tem dito” (Jo 12:48-50).
Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
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