HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 52


O Conflito Sobre a Pessoa de Cristo

O Concílio de Constantinopla declarou em 381 que a verdadeira ortodoxia cristã necessariamente inclui a crença de que Jesus Cristo era e é verdadeiramente Deus tanto quanto verdadeiramente humano – consubstancial com o Pai e com os seres humanos. Depois desse concílio, esperava-se que todos os cristãos cressem em Deus e o professassem como um único ser divino existente eternamente como três subsistências ou pessoas distintas.

Embora vários tipos de arianos e sabelianos ainda permaneceriam às margens da cristandade por muito tempo, a Grande Igreja considerou a questão encerrada, quem ousasse questionar a dignidade e a glória divina iguais das três pessoas como um único ser não teria a menor possibilidade de se tornar um líder eclesiástico.

O ensino de Apolinário a respeito da encarnação foi condenado, embora ele claramente acreditasse na Trindade e muitos cristãos dentro da esfera de influência de Alexandria achassem injusta sua condenação. Muitos em Antioquia ficaram tão horrorizados com o modo de ele explicar a encarnação que começaram a investigar os teólogos alexandrinos para ver se outros acreditavam e ensinavam de modo semelhante.

Os alexandrinos, por sua vez, começaram a vigiar os teólogos antioquenos a fim de verificar se a antiga heresia do adocionismo estava ressurgindo. Não demorou muito para que bispos e teólogos de Alexandria e Antioquia começassem uma discussão teológica a respeito da natureza do Deus-homem, Jesus Cristo, embora todos concordassem que se tratava de Deus encarnado. A questão era como explicar a humanidade e a divindade de Cristo.

O problema nesse mistério era um pouco semelhante ao problema no mistério da Trindade, sendo que os sabelianos, por exemplo, alegavam crer na Trindade, mas expressavam essa crença por meio da linguagem figurada do modalismo. Assim como aconteceu com os principais defensores da doutrina da Trindade, os envolvidos na controvérsia cristológica estavam preocupados em preservar o mistério da pessoa de Jesus Cristo e evitavam explicações que o racionalizassem demais e o esclarecessem.

Os defensores da “união hipostática”, que se tornou a doutrina ortodoxa da pessoa de Cristo no Concílio de Calcedônia em 451, eram a favor do mistério e não racionalistas que tentavam perscrutar mistérios que deveriam ser deixados fora do nosso alcance para desvendá-los e torná-los inteligíveis ao pensamento humano.

Todos entendiam que o que estava em jogo era a própria salvação dos seres humanos. Se Jesus Cristo não era verdadeiramente Deus e também verdadeiramente humano, como poderia nos salvar? Como alguém que não fosse divino, e diferente dos seres humanos, poderia fechar o abismo entre os dois lados e uni-los na reconciliação e na união salvífica?

O aspecto perturbador desse episódio não é a agudeza. Podemos aprender a conviver com a ambiguidade e com a linguagem abstrata. Difícil é aceitar que cristãos usassem a teologia como meio de manobra no jogo de poder e influência, empregando meios antiéticos. Política e teologia misturaram-se de uma forma nunca imaginada. Deus, porém, opera por caminhos misteriosos e a maioria dos cristãos acredita que o resultado final da controvérsia foi uma vitória da verdade, embora ela mantivesse certo mistério.

Três grandes concílios ecumênicos: o de Constantinopla em 381, onde começou esse episódio; o de Éfeso em 431, o terceiro concílio ecumênico, onde o episódio sofreu uma reviravolta; e o de Calcedônia em 451, chegando à conclusão final.

“Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia. Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito” (Jo 12:48-50).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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