O Império Romano estava repleto de
religiões de mistério, cheio de mitos elaborados sobre deuses que morriam e
renasciam, e caminhos para a imortalidade mediante cerimônias secretas. Havia
também filosofias sobrenaturais de vários mágicos, cujos seguidores se reuniam
secretamente para por em prática seus poderes paranormais e estudar os
significados esotéricos dos números e corpos celestes. Havia ainda os famosos
deuses mitológicos do Olimpo como Zeus, Apolo e Diana.
Os apologistas cristãos do século II
decidiram, então, defender a veracidade do cristianismo com base nas filosofias
do platonismo e do estoicismo, ou misturando as duas, já que estas eram aceitas
como superiores.
Celso, um dos piores oponentes pagãos
do pensamento cristão, admitia que todas as pessoas cultas e realmente sérias
do império entendiam e acreditavam na “verdadeira doutrina”, que entendia como
uma filosofia híbrida, que combinava elementos do platonismo, estoicismo e
epicurismo.
A filosofia grega rejeitava o
politeísmo das religiões populares, bem como os mitos e cerimônias de
inicialização das religiões de mistério, o que não quer dizer que todos
realmente evitavam esse envolvimento. Tendiam, no entanto, demitizá-los e a
considerar essas seitas como organizações fraternais para a diversão e
confraternização. Os que mais tendiam para o estoicismo do que para o
platonismo costumavam identificar o divino com a natureza e com a ordem natural
das coisas.
A filosofia grega afirmava a
imortalidade da alma e a importância de se ter uma “vida virtuosa” e ética que
buscasse o equilíbrio entre os extremos e evite a pura sensualidade e o
egocentrismo.
O deus da filosofia grega era
considerado a arché, ou fonte e origem última, de todas as coisas, embora não
tenha criado o universo do nada. Pelo contrário, era considerado a fonte do
qual fluem todas as coisas do universo pela emanação.
Fica evidente a influência que tal
teologia filosófica teve sobre Filo no judaísmo do século I. Ele e outros
filósofos judaicos estavam desejosos de explicar as ideias do Antigo Testamento
em relação aos níveis mais altos da teologia grega, notavelmente o platonismo
médio.
Filo enxergava muitas semelhanças
entre o deus da filosofia grega, que era um só, metafísica e moralmente
perfeito, criador e juiz de todas as almas, e o Iavé da tradição hebraica.
Moisés e Platão se encaixam bem na versão que Filo ofereceu do platonismo médio
judaico.
Esse foi o precedente judaico para a
tarefa dos apologistas cristãos de transmitir as ideias cristãs aos romanos
cultos e pensadores. Estavam simplesmente se apoiando em Filo e criando uma
supraestrutura helenístico-cristã sobre sua base helenístico-judaica.
Apesar de que alguns apologistas
tentaram explicar a Bíblia e defender o cristianismo sem o auxílio da
filosofia, gostaria de opinar dizendo que não seria possível. Não é possível
agora e nem seria, principalmente, numa época em que a cultura helenística
estava ainda muito forte, pois mesmo o domínio sendo romano, não houve a
preocupação por parte daqueles imperadores em impor suas culturas. Se bem
observarmos, mesmo os livros da Bíblia estão impregnados de termos e
pensamentos filosóficos. Se a filosofia grega era a cultura dominante, como
entender de outra forma?
Portanto, a Palavra de Deus deve ser
explicada na linguagem dos ouvintes. Foi o que Jesus fez quando se utilizava dos
meios naturais e das atividades dos ouvintes para apresentar o reino de Deus.
Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro
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