HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 10

A Filosofia Grega

O Império Romano estava repleto de religiões de mistério, cheio de mitos elaborados sobre deuses que morriam e renasciam, e caminhos para a imortalidade mediante cerimônias secretas. Havia também filosofias sobrenaturais de vários mágicos, cujos seguidores se reuniam secretamente para por em prática seus poderes paranormais e estudar os significados esotéricos dos números e corpos celestes. Havia ainda os famosos deuses mitológicos do Olimpo como Zeus, Apolo e Diana.

Os apologistas cristãos do século II decidiram, então, defender a veracidade do cristianismo com base nas filosofias do platonismo e do estoicismo, ou misturando as duas, já que estas eram aceitas como superiores.

Celso, um dos piores oponentes pagãos do pensamento cristão, admitia que todas as pessoas cultas e realmente sérias do império entendiam e acreditavam na “verdadeira doutrina”, que entendia como uma filosofia híbrida, que combinava elementos do platonismo, estoicismo e epicurismo.

A filosofia grega rejeitava o politeísmo das religiões populares, bem como os mitos e cerimônias de inicialização das religiões de mistério, o que não quer dizer que todos realmente evitavam esse envolvimento. Tendiam, no entanto, demitizá-los e a considerar essas seitas como organizações fraternais para a diversão e confraternização. Os que mais tendiam para o estoicismo do que para o platonismo costumavam identificar o divino com a natureza e com a ordem natural das coisas.

A filosofia grega afirmava a imortalidade da alma e a importância de se ter uma “vida virtuosa” e ética que buscasse o equilíbrio entre os extremos e evite a pura sensualidade e o egocentrismo.

O deus da filosofia grega era considerado a arché, ou fonte e origem última, de todas as coisas, embora não tenha criado o universo do nada. Pelo contrário, era considerado a fonte do qual fluem todas as coisas do universo pela emanação.

Fica evidente a influência que tal teologia filosófica teve sobre Filo no judaísmo do século I. Ele e outros filósofos judaicos estavam desejosos de explicar as ideias do Antigo Testamento em relação aos níveis mais altos da teologia grega, notavelmente o platonismo médio.

Filo enxergava muitas semelhanças entre o deus da filosofia grega, que era um só, metafísica e moralmente perfeito, criador e juiz de todas as almas, e o Iavé da tradição hebraica. Moisés e Platão se encaixam bem na versão que Filo ofereceu do platonismo médio judaico.

Esse foi o precedente judaico para a tarefa dos apologistas cristãos de transmitir as ideias cristãs aos romanos cultos e pensadores. Estavam simplesmente se apoiando em Filo e criando uma supraestrutura helenístico-cristã sobre sua base helenístico-judaica.

Apesar de que alguns apologistas tentaram explicar a Bíblia e defender o cristianismo sem o auxílio da filosofia, gostaria de opinar dizendo que não seria possível. Não é possível agora e nem seria, principalmente, numa época em que a cultura helenística estava ainda muito forte, pois mesmo o domínio sendo romano, não houve a preocupação por parte daqueles imperadores em impor suas culturas. Se bem observarmos, mesmo os livros da Bíblia estão impregnados de termos e pensamentos filosóficos. Se a filosofia grega era a cultura dominante, como entender de outra forma?

Portanto, a Palavra de Deus deve ser explicada na linguagem dos ouvintes. Foi o que Jesus fez quando se utilizava dos meios naturais e das atividades dos ouvintes para apresentar o reino de Deus.

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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